Estante da Sala

[8º Olhar de Cinema] A Portuguesa

Esta crítica faz parte da cobertura do 8ª Olhar de Cinema- Festival Internacional de Curitiba, que ocorre entre 5 e 13 de junho na cidade.  O cinema de Rita Azevedo Gomes é marcado pelo apuro estético e cuidado na composição. Em A Portuguesa não é diferente. A história da jovem portuguesa que se casa com o lorde Von Ketten e se muda para o norte da Itália é pano de fundo para a cineasta criar cenas de enorme beleza plástica. A Portuguesa é uma mulher que não encontra lugar na castelo em ruínas de seu marido sem recursos. Eles tiveram

Tatuagem (2013)

Essa crítica foi escrita em outubro de 2017 para um módulo que ministrei do curso A Crítica de Cinema por Dentro, realizado no SESC. Depois da abertura ruidosa em que vemos um mestre de cerimônias apresentando o grupo de teatro Chão de Estrelas, o silêncio. Fininha (Jesuita Barbosa), um dos protagonistas, aparece visualmente aprisionado entre as grades das camas de ferro do quartel onde serve, sentado enquanto seus colegas ainda dormem. A dualidade entre o caos e a ordem será uma constante em Tatuagem, que é bonito nas diversas facetas que a palavra pode expressar ao ser aplicada a um

42ª Mostra de São Paulo- Maya

Esta crítica faz parte da cobertura da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 18 e 31 de outubro na cidade.  A cineasta Mia Hansen-Løve afirmou em uma entrevista, em 2016, que “eu nunca fiz um filme que fosse literalmente sobre minha vida“. Claro, literalmente seria perceptível demais e talvez, mesmo, pouco interessante para ela mesma. Mas é fato que toma emprestado de acontecimento de sua vida e de seus familiares para compor suas obras. Eden (2014) é inspirado pelas experiências de seu irmão como DJ. O Que Está Por Vir (L’avenir, 2016) reflete o divórcio de

42ª Mostra de São Paulo- Malila: A Flor do Adeus

Esta crítica faz parte da cobertura da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 18 e 31 de outubro na cidade.  Dois amantes separados por anos que voltam a se encontrar. Esse é o ponto de partida de Malila (Malila: The Farwell Flower, 2017), o candidato da Tailândia a uma vaga para o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar. Shane (Sukollawat Kanarot) é um homem quebrado, que foi casado com uma mulher e cuja filha morreu. Passou a beber e há muito estava afastado de Pitch (Anuchit Sapanpong), com quem agora retoma contato pois este

Nasce uma Estrela (A Star is Born, 2018)

É fácil encontrar na internet um vídeo de Stephanie Germanotta aos dezenove anos tocando piano e cantando uma música de sua autoria: os pés descalços no pedal, o cabelo naturalmente castanho, o vestido sem glamour, a voz intensa e a entrega de um talento cru, mas patente. A jovem mostra domínio sobre a arte que cria, ainda que sem os elementos de polidez que a tornam vendável. Alguns anos depois, rebatizada Lady Gaga, se tornou mais que cantora e compositora: é uma performer, uma artista que cria uma fantasia de si a cada aparição pública, arrebatando fãs nesse processo. Gaga é um

As Boas Maneiras (2017)

Publicado originalmente em 3 de novembro como parte da cobertura da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Juliana Rojas e Marco Dutra já há muito mostram que em se tratando de cinema de gênero, eles sabem o que estão fazendo. Os curtas já eram um indício, mas o longa Trabalhar Cansa foi a confirmação, bem como os trabalhos solo em Sinfonia da Metrópole e Quando Eu Era Vivo. Sempre mesclando o terror com outros gêneros, aqui trazem uma fábula sobre trabalho, cidade, relacionamentos e, claro, maternidade: temas que já haviam sido trabalhados em filmes anteriores. Ana (Marjorie Estiano) é

Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me by Your Name, 2017)

Como você vive sua vida só interessa a você, apenas lembre que nossos corações e nossos corpos só nos são dados uma vez. E antes que você perceba, seu coração está desgastado e quanto ao seu corpo, chega um ponto em que ninguém olha para ele, muito menos quer chegar perto dele. Agora mesmo, há tristeza, dor. Não a mate e com ela a alegria que você sentiu. Crescer pode ser confuso e dolorido. Amar também. Talvez por isso os amores que temos em determinadas fases da vida sejam tão marcantes. Narrativas LGBT tendem a abordar as dores e as