Estante da Sala

Ave, César!

É fácil comparar Ave, César!, novo filme dos direitores e roteiristas Joel e Ethan Coen, com Barton Fink– Delírios de Hollywood (1991), seu quarto filme, já que ambos se passam na Capital Records, um estúdio fictício da era de ouro de Hollywood. O segundo abarca os anos de produções de segunda linha, na década de 1940, enquanto agora, na década de 1950, o estúdio cresceu e é apresentado como criador de estrelas e de sucessos de gênero, como uma MGM de um universo alternativo. Mas os vinte e cinco anos entre ambos os filmes parecem marcar também uma mudança no posicionamento dos

Descompensada (Trainwreck, 2015)

Descompensada é o primeiro filme do diretor Judd Apatow que não é roteirizado por ele mesmo. Dessa vez a escrita fica por conta de Amy Schumer, comediante com a qual não tive contato anterior para saber como é seu trabalho solo. Apatow, por sua vez, cria comédias com as quais não consigo ter muita identificação, então acho que não sou exatamente o seu público alvo. O resultado da união entre os dois é um filme que claramente tem dois autores. O que chama mais atenção é que apesar do roteiro ser de Schumer, a estrutura é similar a de outros trabalhos do diretor:

Figurino: Amantes Eternos- a invenção de um oriente exótico

Texto originalmente publicado na coluna Vestindo o Filme em 08/05/2015. Quem não sonhou a terra do Levante? As noites do Oriente, o mar, as brisas, Toda aquela sua natureza Que amorosa suspira e encanta os olhos? (Trecho do poema O Cônego Filipe, de Álvares de Azevedo) A citação inicial dessa análise não vem por acaso. Poeta romântico, Álvares de Azevedo segue os preceitos da escola literária, entre eles a exaltação da natureza, a visão trágica do mundo e a idealização do assim chamado Oriente. Adam (Tom Hiddleston) e Eve (Tilda Swinton), os protagonistas de Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive,

Figurino: Precisamos Falar Sobre o Kevin

“Costumava pensar que sabia. Agora não tenho certeza.” Uma das sequências iniciais já entrega: apesar de ter a tensão construída de maneira gradual e sem uso de violência gráfica, os signos que dão pistas do antecipado desfecho não são sutis. A protagonista, Eva (Tilda Swinton) aparece em um flashback sendo carregada, com os braços abertos em cruz, em meio ao festival La Tomatina, na Espanha. A imagem se conecta à jornada de calvário da personagem. O ideário de martírio e penitência começa com próprio nome: Eva, a primeira mulher, a mãe e a responsável pelo pecado original. A culpa relacionada

Figurino: O Grande Hotel Budapeste

Texto originalmente publicado na coluna Vestindo o Filme em 20/08/2014. O Grande Hotel Budapeste, último filme de Wes Anderson, reúne um grande elenco em uma obra que apesar da temática mais sombria que a de seus filmes anteriores, bem como de certa violência, ainda que estilizada, mantém o tom fabulesco e a estética impecável que lhe são característicos. O design de produção faz uso de maquetes e miniaturas (também como em filmes anteriores) e o figurino é assinado pela veterana Milena Canonero, que também foi responsável por Barry Lyndon, já aqui comentado. O filme retrata três décadas diferentes, cada uma com suas

Amantes Eternos (Only Lover Left Alive, 2013)

Amantes Eternos, de Jim Jarmusch, é um filme de ambientes e personagens, de uma simplicidade complexa e hipnótica. Eve (Tilda Swinton) e Adam (Tom Hiddleston) são dois amantes separados pelo espaço: ela mora em Tanger (Marrocos) e ele em Detroit. As sequências inicias já deixam claro a poética e beleza do filme: o universo gira e eles giram após beberem um pequeno cálice de sangue cada. A palavra “vampiro” jamais é mencionada no filme, mas sua natureza é logo deixada clara. Quando Eve sai de casa, vestindo um traje claro e com um véu cobrindo-lhe parcialmente os cabelos e o