Estante da Sala

Livro: To the Lighthouse, de Virginia Woolf

Faz tempo que queria escrever sobre esse livro maravilhoso que li no início do ano, mas me faltava inspiração. Acabei traduzindo (porcamente) trechos de dois ensaios ( The Ordinary in Wittgentein and Woolf’s Work e Memory and History in the Work of Freud and Woolf) que escrevi para avaliação no curso The Modern and The Postmodern, da Wesleyan University, disponível no site Coursera.

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“Mrs. Dalloway said she would buy the flowers herself.”

Virginia Woolf- Mrs. Dalloway

Virginia Woolf foi uma escritora britânica, nascida em 1882. Ela é conhecida por ser fundamental para o movimento modernista na literatura anglófona. Em Passeio ao Farol utiliza um modo de narrativa já usado em Mrs. Dalloway: não há um único narrador e a maior parte das ações nos são relatadas através dos pensamentos dos personagens. A narrativa pula de um personagem para outro em um fluxo de consciência. Também é preenchida com elementos psicológicos, e sentimentos brotam através das páginas, algumas vezes repletos de um senso de melancolia. Geralmente é narrado em um tempo presente, sobre atividades cotidianas, mas às vezes os pensamentos dos personagens são invadidos por reminiscências. “She often felt she was nothing but a sponge sopped full of human emotions“.

Em oposição ao modo das grandes sagas clássicas, que envolvem múltiplas linhas narrativas e eventos, a história de Woolf cobre apenas dois dias, com dez anos entre eles. Os protagonistas são a família, Sr. e Sra. Ramsay e seus oito filhos; e seus convidados, em uma casa perto da praia. Todos os eventos são bastante cotidianos: envolvem caminhar na praia, longas conversas, preocupação com o jantar, o clima e as crianças, e pensar à respeito dos outros e suas conexões. Aqui temos um exemplo: no começo do livro Charles Tarsley caminha com a Sra. Ramsey e carrega sua bolsa. “With stars in her eyes and veils in her hair, with cyclamen and wild violets- what nonsense was she thinking? She was fifty at least; she had eight children. Stepping through fields of flowers and taking to her breast buds that broken and lambs that had fallen; with the stars in her eyes and the wind in her hair- He had hold of her bag.[…] for the first time in his life Charles Tarsley felt an extraordinary pride; felt the wind and the cyclamen and the violets for he was walking with a beautiful woman. He had hold of her bag“.

No seu trabalho, memória tem uma posição subjetiva. Woolf, fala muito sobre sua própria infância nesse livro. Seu pai reflete a persona de Sr. Ramsay: ele também era um acadêmico e pensador, mas um historiador, não filósofo como o personagem. Sr. Ramsay é a voz da ciência e do desapontamento e tem uma dinâmica edipiana em relação a seus filhos. Sua mãe criou a família com muitos contatos com artistas e era conhecida pela beleza, como Sra. Ramsay. A Sra. Ramsay é a personagem que conecta todos e isso diz muito sobre a própria mãe de Woolf e como ela deve ter sofrido com sua morte, quando tinha apenas treze anos de idade. Ambos os seus pais eram viúvos, de maneira que ela tinha muitos meio irmãos e o total de crianças eram oito, como com os Ramsay. Eles costumavam passar seus verões em um casa próxima à praia, na Cornuália e as memórias desses verões é que a levaram a escrever esse livro.

A história também lida com um sentido de perda ligado ao passado. O livro foi publicado em 1927, quando Woolf (e a Europa como um todo, na verdade) lutava com esse sentimento deixado pela Primeira Guerra Mundial e a dificuldade de deixar para trás lembranças e se curar.  A Segunda metade do livro narra outro dia na vida dos personagens, mas dessa vez muitos deles já faleceram. “[Mr. Ramsay, stumbling along a passage one dark morning, stretched his arms out, but Mrs. Ramsay having died rather suddenly the night before, his arms, though stretched out, remained empty.]“. A melancolia se faz presente:  “[…] the flower standing there, looking before them, looking up, yet beholding nothing, eyeless, and so terrible“. “Things were better then than now“. Vemos os personagens lidarem com suas próprias perdas: “[]to pace the beach was impossible, contemplation was unendurable; the mirror was broken“. Eles tem que aceitar que às vezes o que acontece não tem um sentido “What is the meaning of life? That was all– a simple question; one that tended to close in on one with years. The great revelation had never come. The great revelation perhaps never did come. Instead, there were little daily miracles…“. Virginia Woolf não procurava um significado para as memórias passadas: ela queria apenas as conexões, a amizade, o amor e arte.

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