Estante da Sala

Meio Irmão: o cinema, a política e a poética

Essa crítica foi publicada originalmente no dia 11 de novembro de 2018 no Dossiê do Juri Abraccine da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, do qual fiz parte. Entre cada sessão, os encontros fugazes acompanhados de breves palavras pesarosas que escapam pelos lábios. Na convergência de pessoas, olhares se cruzam e comentários misturam as obras vistas com os acontecimentos concomitantes. Entre o dia 18 e 31 de outubro ocorreu a 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O senso de normalidade da cinefilia é quebrado pelo mundo que chama do lado de fora do cinema. O processo eleitoral

42ª Mostra de São Paulo- Poderia Me Perdoar?

Esta crítica faz parte da cobertura da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 18 e 31 de outubro na cidade.  O ano é 1991. Lee Israel é uma autora de livros biográficos de moderado sucesso, que nunca se estabeleceu como uma figura importante no mercado. Até que resolve mudar suas práticas profissionais e fica tão famosa por isso que sua autobiografia, Poderia Me Perdoar?, é adaptada para o cinema em 2018. O roteiro é de Nicole Holofcener e a direção fica por conta de Marielle Heller (de O Diário de uma Adolescente). Israel é interpretada Melissa McCarthy,

42ª Mostra de São Paulo- Cafarnaum

Esta crítica faz parte da cobertura da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 18 e 31 de outubro na cidade.  E tu, Cafarnaum, que te ergues até ao céu, serás abatida até ao inferno; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje. (Mateus 11:23) Depois dos belos Caramelo (Sukkar banat, 2007)  e E Agora Onde Vamos? (Et maintenant on va où?, 2011) era natural a ansiedade que um novo filme de Nadine Labaki causaria. Suas obras anteriores eram centradas em vivências diversas de mulheres libanesas, mostrando

42ª Mostra de São Paulo- O Mau Exemplo de Cameron Post

Esta crítica faz parte da cobertura da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 18 e 31 de outubro na cidade.  Em 1993, a jovem Cameron (interpretada por Chloe Grace Moretz) é flagrada por seu namorado ficando com sua melhor amiga. Órfã, ela é criada por uma tia conservadora, que resolve enviá-la a um acampamento chamado God’s Promise (Promessa de Deus) que tem por objetivo a prática de uma espécie de “cura LGBT” e que é coordenado pelo Reverendo Rick (John Gallagher Jr.). Em tempos em que os direitos assegurados por minorias sexuais  estão sendo ameaçados e,

42ª Mostra de São Paulo- Almofada de Alfinetes

Esta crítica faz parte da cobertura da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 18 e 31 de outubro na cidade.  Lyn (Joanna Scanlan) e Iona (Lily Newmark) são mãe e filha e têm um relacionamento de grande proximidade. Acabaram de se mudar para uma nova cidade, por motivos não revelados, e parecem querer usar essa oportunidade para começar a vida do zero. Isso vai da decoração da sua casa às amizades. Iona, especialmente, se esforça para criar uma imagem diferente de si, inventando uma nova mãe e criando um novo comportamento, de jovem que experimenta a

42ª Mostra de São Paulo- Maya

Esta crítica faz parte da cobertura da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 18 e 31 de outubro na cidade.  A cineasta Mia Hansen-Løve afirmou em uma entrevista, em 2016, que “eu nunca fiz um filme que fosse literalmente sobre minha vida“. Claro, literalmente seria perceptível demais e talvez, mesmo, pouco interessante para ela mesma. Mas é fato que toma emprestado de acontecimento de sua vida e de seus familiares para compor suas obras. Eden (2014) é inspirado pelas experiências de seu irmão como DJ. O Que Está Por Vir (L’avenir, 2016) reflete o divórcio de

42ª Mostra de São Paulo- Garotas em Fuga

Esta crítica faz parte da cobertura da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 18 e 31 de outubro na cidade.  Em Garotas em Fuga (Cavale, 2018), Kathy (Lisa Viance) é uma adolescente órfã de mãe que foi levada a uma instituição psiquiátrica e colocada como colega de quarto são de mais duas meninas, Nabila (Yamina Zaghouani) e Carole (Noa Pellizari). Rapidamente fica claro que seu comportamento não seria de ajuda em sua situação: ao mesmo tempo em que é calada, se recusa a obedecer as regras que lhe são impostas. Nesse momento o filme destaca