Assistido em 26/12/2013.
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A Vida Secreta de Walter Mitty é um filme- pegadinha. Ele vai se vender para você como uma comédia dramática de superação pessoal, mas pouco mais é do que um grande comercial com frases de efeito de auto-ajuda. O protagonista, o Walter Mitty do título (Ben Stiller), é um cara normal que trabalha no setor de negativos da revista Life. “Negativos” e “Life” (vida), são alguns dos pontos pouco sutis utilizados como metáforas no roteiro. Ele trabalha nesse mesmo emprego há dezesseis anos e nunca parou para conhecer o mundo. Deixou para trás o moicano e o skate da adolescência para se tornar algo que ele mesmo considera aborrecido. Mas está interessado na nova colega de trabalho Cheryl Melhoff, interpretada com adorabilidade por Kristen Wiig, que pouco mais tem a fazer com o papel.
A Revista Life é vendida e passará a ter apenas edições digitais, de maneira que parte da equipe será dispensada. A foto da capa seria a indicada pelo legendário fotógrafo Sean O’Connell (Sean Penn), mas acontece que ele não enviou o negativo. Sean é um cara à moda antiga: viaja pelo mundo, tira fotos analógicas, não possui celular nem e-mail. Walter, então, parte em uma viagem para descobrir o seu paradeiro e assim, poder recuperar a foto especial.
O filme ataca a política das grandes corporações e a falta de consideração com o fator humano, ao mesmo tempo em que faz uma propaganda de uma empresa atrás da outra. Papa Johns e e-Harmony, para citar apenas duas, são citadas de maneira menos sutil que Wilson e Fedex em O Náufrago. As citações sobre os bolinhos de canela da Cinnabon ao final são completamente sem contexto. A respeito da frieza do mundo corporativo e seus métodos de demissão, ainda prefiro Amor Sem Escalas. Adam Scott como o gerente de transição Ted Hendricks parece perdido em cena com o papel caricato e a caracterização estranha, com uma barba completamente distrativa.
É interessante que ao criticar o marasmo em que se encontra o protagonista, em uma vida supostamente sem grandes momentos, o filme esquece que ele mesmo tem um emprego especial e bonito e o valoriza apenas quando luta com tubarões, foge de vulcões e escala o Himalaia, coisa que, obviamente, não são todos que podem fazer. Se a proposta era mostrar a jornada de crescimento do personagem, poderia ter sido feita de uma maneira que facilitasse a conexão do espectador. Ao invés de abraçar o seu tom de auto-ajuda e mostrar o valor das pequenas coisas no cotidiano, vai pelo caminho contrário, em que só o extraordinário tem valor. Não bastasse isso, o sujeito ainda fica com a mulher de seus sonhos ao final. E, acabando com qualquer sutileza que a moral da história pudesse ter, descobre na banca qual era a foto especial para a capa e a mensagem torna-se não só clara, como pobre.
Aspecto positivo do filme é seu visual: trata-se de uma caixa vazia, mas com o mais lindo embrulho. A fotografia é linda, as cores são bonitas, os efeitos especiais funcionam dentro do que é proposto. Além disso, a já citada Kriten Wiig, bem como Shirley MacLaine no papel de Edna, mãe de Walter, saem-se muito bem em cena, mesmo, no caso da segunda, aparecendo muito pouco.
O fato de o filme ser dirigido pelo próprio Ben Stiller o torna um festival de auto-indulgência. O roteiro de Steve Conrad (de A Procura da Felicidade) explica muita coisa. (E uma pessoa que parece achar que só se pode ser feliz com o emprego mais bem pago do mundo ou após escalar o Himalaia, deve ter uma vida incrível!). Enfim, pouco mais há a se dizer sobre um filme tão visualmente agradável, mas com tão pouco conteúdo. Filme dirigido por Ben Stiller? Ainda fico com Trovão Tropical.
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