(aliteração não intencional no título, mas vou deixar assim mesmo) Esses dias caiu nas minhas mãos o livro Corpo e Alma- Notas etnográficas de um aprendiz de boxe, escrito pelo sociólogo francês Loïc Wacquant. A etnografia, bastante interessante, trata do trabalho de campo do autor, que se mudou em 1988 para trabalhar na universidade de Chicago e foi morar na divisa do que chama de “gueto” da cidade, uma bairro pobre e de população majoritariamente negra. Sua ideia original era pesquisar questões raciais no local, mas, como frequentou entre esse ano e o de 1991 a academia de boxe comandada pelo treinador DeeDee, acabou
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Mulheres-Ciborgue, ficção científica e alguns comentários
Esses dias eu estava lendo o Manifesto Ciborgue, que acho que deve ser o trabalho mais famoso da Donna Haraway, pesquisadora do campo de gênero que estuda ciência e tecnologia. Lançado originalmente em 1985, o manifesto trata sobre o que a autora chama de ciborguização do corpo, ou seja, a forma como através de ferramentas farmacológicas e mesmo prostéticas, como lentes ou órgãos artificiais, rompemos a barreira dos nossos corpos levando-os para além do limite da pele. Tudo isso muito antes da tecnologia presente em um smartphone, a prótese-mor do nosso cotidiano. Por fim, a autora analisa questões vinculadas à reprodução,
Por que sou levada a escrever?
O que nos valida como seres humanos, nos valida como escritoras. (ANZALDÚA, Gloria) Recebi de uma amiga querida o ensaio Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do terceiro mundo, da escritora Gloria Anzaldúa, publicado na Revista Estudos Feministas em 2000 (leia ele na íntegra aqui). O texto epistolar é realmente inspirador e já começa com uma saudação às “mulheres de cor” que também escrevem. Anzaldúa é americana de origem mexicana, nascida no Texas e criada nas roças de tomate. Ativista pelos direitos dos camponeses desde a década de 1950, no final dos anos 60 teve contato com a literatura feminista e nos anos 70
Livro: Gaga Feminism, de J. Halberstam
É difícil avaliar um livro como Gaga Feminism, publicado em 2012 e escrito por Jack Halberstam, professor de inglês e do Centro para Pesquisas Feministas da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos. Halberstam aborda principalmente questões relacionadas ao que chama de masculinidades femininas, especialmente homens transgêro e mulheres cisgênero que são butches. Mas o livro aborda muito mais do que isso: há diversas análises às repeito de gênero e sexualidade que partem de um ponto de vista da cultura pop, explorando principalmente os filmes lançados nos últimos anos. E ainda funciona como um manifesto do que chama de Gaga Feminism, termo que
Melhores Livros Lidos em 2015
As leituras esse ano renderam, ainda mais se eu pensar no tanto de capítulos e de artigos que, por não serem livros inteiros, ficam de fora. Como sempre, esse foram os livros que mais gostei de ler no ano, não necessariamente lançados em 2015. Alguns já foram comentados aqui no blog e os links para as postagens estão em seus títulos. Ficção Jane Eyre- Charlotte Brontë Confesso que o desejo de ler esse livro veio ao assistir à adaptação para o cinema dirigida por Cary Joji Fukunaga e estrelada por Mia Wasikowska. Fui atraída pelo trágico e pelo clima gótico da história e
Livro: Americanah, de Chimamanda Ngozi Adichie
Cheguei ao trabalho da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie através de seu manifesto Sejamos Todos Feministas, um texto curto transcrito de uma palestra do TED e que está disponibilizado gratuitamente para download na Amazon. O conteúdo é bastante simples e direto e, talvez por isso, tão eficiente. A palestra pode ser conferida no vídeo abaixo. Algum tempo depois assisti a um filme chamado Half of a Yellow Sun, estrelado por Thandie Newton, Chiwetel Ejiofor, Anika Noni Rose e John Boyega e dirigido por Biyi Bandele. O filme é adaptado do romance Meio Sol Amarelo, o segundo escrito por Chimamanda; e me chamou atenção porque a despeito da
Livro: Imagem-Violência
O cinema dos anos 90 é o da crueldade irônica Jean-Claude Bernardet O livro Imagem-Violência: etnografia de um cinema provocador é fruto da dissertação defendida pela antropóloga Rose Satiko Gitirana Hikiji em 1999. Após uma introdução escrita por Massimo Canevacci (autor do livro Sincrétika, que listei entre os melhores que li ano passado), a autora apresenta o contexto de seu trabalho, que foi a primeira pesquisa em antropologia visual defendida na Universidade de São Paulo. Nesse contexto, a área estava começando a se estabelecer e a USP contava e ainda conta com um Grupo de Antropologia Visual e um Laboratório de