Estante da Sala

O Grande Hotel Budapeste, cores e perspectivas

Quando analisamos um filme de Wes Anderson dois aspectos principais chamam a atenção: o uso de cores e a perspectiva. Seu novo filme, O Grande Hotel Budapeste, por exemplo, tem cenas que ocorrem em três décadas diferentes, cada década representada por um esquema de cores próprio.

É interessante tentar analisar as composições de cores no filme. Tomemos um círculo cromático, por exemplo. Esse círculo já foi visto e feito por todos que já tiveram algum tipo de aula de desenho. Trata-se das três cores primárias (azul, amarelo e vermelho) combinadas para gerar as três cores secundárias (verde laranja e roxo), que por sua vez são misturadas às primárias, gerando as cores terciárias.

Círculo cromático
Círculo cromático

Quando observamos um círculo cromático, as formas mais simples de fazer cores combinarem entre si são o uso de cores complementares (que se localizam em lados oposto do círculo) e as análogas (as duas cores vizinhas uma cor escolhida). Todas as cores possuem tons mais claros e mais escuros, que dizem respeito ao acréscimo de preto à matiz original. Ao observarmos todas as possibilidades de combinações de cores que são dispostas em O Grande Hotel Budapeste, (bem como outros filmes do diretor) o que se percebe é que elas seguem essas lógicas. Apesar disso as paletas são mais complexas e ainda assim criam o efeito desejado.

Hall do Grande Hotel Budapeste na década de 1960
Hall do Hotel Budapeste na década de 1960

Nesta cena no Hotel em que é mostrado seu Hall na década de 1960, por exemplo, o amarelo aberto e o verde-amarelado até conversam entre si, por serem cores análogas, mas o laranja está distante destes no círculo e o roxo não é complementar a nenhuma delas. A ideia é que a década seja caracterizada pelo uso de cores estranhas, que não criam harmonia.

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Hall do Hotel Budapeste na década de 1930

Na década de 30, o mesmo hotel tem um Hall não só decorado com maior grandiosidade, mas também as cores que predominam, vermelho e tons rosados, pertencem à mesma escala. Assim, através do uso de cores, Wes Anderson e sua direção de arte garantem a sensação para o espectador de que algo está desconexo na década de 1960, mas tudo está como deveria na década de 30.

Outro ponto interessante na composição das cenas é o uso constante, quase exclusivo, de perspectivas com apenas um ponto de fuga. Essa forma de retratar um objeto coloca o espectador de frente para ele e o transforma em algo que pode até transmitir senso de profundidade, mas passa a ideia de cenário artificial. Isso acontece porque na vida real raramente paramos exatamente no centro de um cômodo, de forma perpendicular à parede. Geralmente nós formamos algum ângulo que garante uma perspectiva com dois pontos de fuga, expandindo a visão para laterais dos objetos.

Perspectivas com um e com dois pontos de fuga (desculpe a tosquice, os desenhos tem mais de 10 anos)
Perspectivas com um e com dois pontos de fuga (desculpe a tosquice, os desenhos tem mais de 10 anos)

Assim, no filme, as linhas estão sempre convergindo para um ponto imaginário ao fundo da cena, fazendo com que tudo tenha aparência de cenário, e criando imagens que parecem tableaus

perspectiva
Perspectivas com um ponto de fuga

A opção por esse ângulo específico para composição de cena se repete em sua filmografia, demonstrando a intencionalidade de compor imagens teatrais.

Esses foram apenas dois exemplos de aspectos que chamam atenção no filme, já que Wes Anderson tem um estilo bastante característico e seus filmes são facilmente marcados como sendo seus.

 

Para ler mais sobre o figurino de O Grande Hotel Budapeste, acesse aqui.

 

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3 thoughts on “O Grande Hotel Budapeste, cores e perspectivas

  1. Bem curioso esse lance do uso de perspectiva dele. Sempre acho que os filmes do Wes Anderson parecem se passar em caixinhas contendo universos singulares dentro, e que assistir a um filme dele é remover uma das arestas dessa caixa para que possamos entrar nesses mundinhos. Definitivamente, o uso desse ponto de fuga único é um elemento crucial para essa minha percepção.

    Muito interessante e elucidativo o post. Achei seu site por causa da sua ótima coluna no Cinema em Cena e curti bastante os temas e textos daqui também. Parabéns! :^)

    1. Oi Ander! Acho que é mais ou menos essa ideia da caixinha mesmo: estamos sempre olhando algo por essa portinha, mesmo quando é uma fachada ou cena externa. Obrigada pelo comentário e volte sempre! 🙂

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