Estante da Sala

Elle (2016)

Paul Verhoeven retorna com Elle, um filme polêmico e aclamado, adaptado do romance Oh…, de Philippe Djian. O auteur provocateur se propõe a criar um suspense com pitadas uma comédia de humor ácido que retrata o suposto jogo de gato e rato entre uma mulher, Michèle (Isabelle Huppert) e seu perseguidor. Michèle é uma poderosa CEO de uma empresa de jogos e se apresenta como uma pessoa forte, dura e distante, o que é comprovado pelas falas de seu ex-marido Richard (Charles Berling). A primeira cena que o espectador testemunha é uma em que essa mulher, até então desconhecida, é jogada no chão, tem

Aquarius (2016)

Aquarius é um filme de inegável relevância para as discussões políticas contemporâneas, especialmente no contexto de uma economia de mercado que atropela os indivíduos, favorecendo a especulação financeira. Sua protagonista, Clara (Sônia Braga), é a última moradora de um edifício à beira-mar que foi comprado por uma construtora com o intuito de substituí-lo por um arranha-céu. Ao retratar essa realidade no contexto de Recife, ressoa histórias como a do Edifício Caiçara e o movimento Ocupe Estelita. O filme é estruturado em três capítulos: O Cabelo de Clara, O Amor de Clara e O Câncer de Clara e cada um desvela os elementos que

Os Silêncios do Palácio (Samt el qusur, 1994)

“Minha vida foi uma série de abortos e canções natimortas”. Início da década de 1950: a Tunísia se vê mergulhada em uma revolução que levou à sua independência da França. O cenário político turbulento serve de pano de fundo para o filme, primeiro longa de Moufida Tlatli, considerada a primeira diretora árabe a dirigir um longa no mundo árabe. Enquanto no mundo exterior há luta armada, o que ela captura são outras lutas nem sempre visíveis a todos, mas travadas diariamente dentro dos muros de um palácio. A trama é abordada sob o ponto de vista de uma cantora chamada

Figurino: Carol

Muitas vezes, nesse espaço, coloquei ênfase no uso de cores vinculado às trajetórias dos personagens e em como a mudança delas pode marcar momentos importantes da trama. (Cito como exemplo alguns dos textos que mais gostei de fazer: Precisamos Falar Sobre o Kevin , Segredos de Sangue e Drácula de Bram Stoker). É comum que filmes em cores sejam entendidos como representações realistas, pura e simplesmente, uma vez que o meio ao nosso redor também é colorido. Mas nem sempre isso é verdade, porque as cores dispostas em cena são escolhas deliberadas, para servir à narrativa, criar atmosfera ou destacar elementos específicos. O

A Vingança Está na Moda (The Dressmaker, 2015)

Adaptado do livro homônimo de Rosalie Ham, A Vingança Está na Moda narra a história de Tilly Dunage (Kate Winslet), uma mulher que retorna a Dungatar, seu vilarejo de origem no interior da Austrália na década de 1950, após anos morando na Europa. Tilly foi afastada ainda criança da cidade sob a acusação de ter assassinado um colega de escola. Volta para casa para cuidar de sua mãe, Molly (Judy Davis), que também é, de certa forma, uma pária na cidade, primeiramente por ter sido mãe solteira e agora por ser considerada louca. Adulta, Tilly pretende se vingar de todos os que lhe causaram

Ave, César!

É fácil comparar Ave, César!, novo filme dos direitores e roteiristas Joel e Ethan Coen, com Barton Fink– Delírios de Hollywood (1991), seu quarto filme, já que ambos se passam na Capital Records, um estúdio fictício da era de ouro de Hollywood. O segundo abarca os anos de produções de segunda linha, na década de 1940, enquanto agora, na década de 1950, o estúdio cresceu e é apresentado como criador de estrelas e de sucessos de gênero, como uma MGM de um universo alternativo. Mas os vinte e cinco anos entre ambos os filmes parecem marcar também uma mudança no posicionamento dos

Conspiração e Poder (Truth, 2015)

https://www.youtube.com/watch?v=YAraTeVDJbQ James Vanderbilt é roteirista, conhecido pelos dois filmes do Espetacular Homem-Aranha e Zodíaco, de David Fincher. Conspiração e Poder é o primeiro filme que dirigiu (além de ter roteirizado, claro) e chama a atenção o elenco de peso que embarcou no projeto. O longa aborda o jornalismo televisivo, especificamente uma história real que ocorreu envolvendo a produção do programa 60 Minutos, um dos mais tradicionais da televisão estadounidense. Em 2004 a produtora Mary Mapes (Cate Blanchett) encontrou indícios de fraude envolvendo o então presidente George W. Bush e sua alocação no exército durante a Guerra do Vietnam. Em plena corrida para