Estante da Sala

Novo podcast: Feito por Elas

Quem acompanha o blog sabe que há alguns meses eu venho fazendo o desafio #52FilmsByWomen, que consiste em assistir a um filme dirigido por uma mulher por semana durante um ano. Esse desafio tem movimentado blogs e redes sociais e as conversas em torno das obras se ampliaram. Assim, Angélica Hellish do Masmorra Cine, e eu resolvemos começar um podcast onde pudéssemos ampliar o debate em torno dos filmes e suas autoras e divulgar esses trabalhos. A nós se juntou Stephania Amaral, do Cinema em Cena e assim produzimos esse episódio piloto sobre a premiada diretora polonesa Agniezka Holland. A ideia é que cada episódio

Janelas: Cléo das 5 às 7

Cléo das 5 às 7 (Cléo de 5 à 7, 1962) é dirigido por Agnès Varda e tem temas como gênero, vaidade, solidão e medo da morte, com influências do feminismo e do existencialismo de então. Os espelhos tem grande papel visual nas cenas, como fica claro nessas imagens. É o filme número 32 do meu desafio #52FilmsByWomen. https://www.youtube.com/watch?v=5StVkm7cPdM

Mulheres-Ciborgue, ficção científica e alguns comentários

Esses dias eu estava lendo o Manifesto Ciborgue, que acho que deve ser o trabalho mais famoso da Donna Haraway, pesquisadora do campo de gênero que estuda ciência e tecnologia. Lançado originalmente em 1985, o manifesto trata sobre o que a autora chama de ciborguização do corpo, ou seja, a forma como através de ferramentas farmacológicas e mesmo prostéticas, como lentes ou órgãos artificiais, rompemos a barreira dos nossos corpos levando-os para além do limite da pele. Tudo isso muito antes da tecnologia presente em um smartphone, a prótese-mor do nosso cotidiano. Por fim, a autora analisa questões vinculadas à reprodução,

Paris is Burning (1990)

Paris is Burning é o perfeito retrato de uma cultura em um local e época específicos. O documentário de 1990, dirigido por Jennie Livingston, foi filmado entre 1985 e 1989 nos bailes queer do Harlem, em Nova York. Seus protagonistas são os participantes deles, majoritariamente compostos por homens gays e mulheres trans, negros e latinos. O filme possibilita a reflexão sobre as exclusões sistêmicas de cunho étnico-racial e de classe a que seus personagens são submetidos. Sonhando com riqueza, aceitação e uma vida melhor, eles competem em desfiles de drag em categorias como “empresário”, “estudante universitário”, “magnata do campo”, entre outras, mostrando que se

Por que sou levada a escrever?

O que nos valida como seres humanos, nos valida como escritoras. (ANZALDÚA, Gloria) Recebi de uma amiga querida o ensaio Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do terceiro mundo, da escritora Gloria Anzaldúa, publicado na Revista Estudos Feministas em 2000 (leia ele na íntegra aqui). O texto epistolar é realmente inspirador e já começa com uma saudação às “mulheres de cor” que também escrevem. Anzaldúa é americana de origem mexicana, nascida no Texas e criada nas roças de tomate. Ativista pelos direitos dos camponeses desde a década de 1950, no final dos anos 60 teve contato com a literatura feminista e nos anos 70

Livro: Gaga Feminism, de J. Halberstam

É difícil avaliar um livro como Gaga Feminism, publicado em 2012 e escrito por Jack Halberstam, professor de inglês e do Centro para Pesquisas Feministas da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos. Halberstam aborda principalmente questões relacionadas ao que chama de masculinidades femininas, especialmente homens transgêro e mulheres cisgênero que são butches. Mas o livro aborda muito mais do que isso: há diversas análises às repeito de gênero e sexualidade que partem de um ponto de vista da cultura pop, explorando principalmente os filmes lançados nos últimos anos. E ainda funciona como um manifesto do que chama de Gaga Feminism, termo que

Cinema de Mulher?

Algumas leituras feitas para a minha dissertação despertam reflexões e vou rabiscar rapidamente essa daqui. Às vezes as pessoas tem dificuldade de entender o “Não se nasce mulher, torna-se mulher” da Simone de Beauvoir, mas ele é bastante simples, na verdade. A ideia é que se parte do princípio de um ser humano universal, que não à toa é chamado de “Homem” e que os atributos de “ser mulher” são construídos em oposição, de forma relacional, ao “ser homem“. O Homem é o Ser Humano, a Mulher é uma variante, um particular, uma especificidade desse ser humano. Quando levamos isso