Escrito pelo antropólogo sueco Don Kulick, o livro Travesti- Prostituição, Sexo, Gênero e Cultura no Brasil aborda de forma bastante intensa e imersiva a vida de trevestis na cidade de Salvador em meados dos ano 90. É interessante a visão de um estrangeiro sobre uma realidade de vivências trans que ele afirma serem praticamente exclusivas do Brasil: as travestis. Chamando o país de “uma sociedade de violência”, após viver 8 meses com 13 travestis. relata as vivências delas em meio à ojeriza de uma sociedade que não só as colocam à margem, mas as agridem fisicamente de maneira cotidiana. Questões de gênero e classe perpassam a narrativa frequentemente. Com uma escrita fluida e sem grandes discussões teóricas, o livro passa a sensação de que estamos lendo um romance ou um relato, que nos carrega para a intimidade das suas personagens. Provavelmente o maior problema da obra seja justamente a falta de discussão sobre teoria de gênero e sobre o que significa ser travesti nesse contexto. Autores e citações são problematizados literalmente nas últimas 15 páginas. Mas isso não diminui em nada a riqueza da obra.
