Boa Noite, Mamãe chega ao Brasil acompanhado de muita repercussão em sua trajetória em festivais no exterior. O suspense austríaco é roteirizado e dirigido pela dupla Severin Fiala e Veronika Franz e trata de dois irmão gêmeos Lukas e Elias (vividos pelos ótimos Lukas e Elias Schwarz) que se sentem desconfiados da própria Mãe (Susanne Wuest) quando esta retorna para casa após uma cirurgia. O seu comportamento causa estranhamento e ele desconfiam que ela pode não ser quem parece.
A primeira metade do filme trabalha fortemente a construção de atmosfera e o suspense psicológico. Os elementos visuais chamam a atenção: em sua primeira aparição, a mãe emerge das sombras com o rosto coberto de bandagens e por um momento parece um palhaço macabro com um sorriso estranho. A casa, seus móveis, os quadros na parede com modelos desfocados e o espaço construído e natural que parecem abarcar todas as brincadeiras dos dois garotos são fotografados de maneira bonita e compõem o clima do filme. Também de destacam as músicas infantis, que soam macabras dentro do contexto.
O grande problema está na reviravolta, que é facilmente prevista logo nos primeiros minutos do filme. Todos os detalhes chamam atenção a ela e é possível pensar que talvez essa fosse uma escolha para despistar o espetador e entregar um revelação diferente, mas não é o que ocorre. Isso não seria problemático se o filme não pautasse a tensão em torno do momento em que a revelação ocorre, contando realmente com a surpresa do espectador.
E é justamente em sua segunda metade que ele desperdiça seu potencial. Se até então os diretores compuseram um suspense psicológico, ele é abandonado em prol de um torture porn nada instigante, com elementos que já vimos repetidos em outros filmes e melhor explorados neles.
Boa Noite, Mamãe é um filme com um visual bonito, com uma boa construção de atmosfera, mas com um roteiro que não se preocupa em criar um clímax condizente com o que parece ser sua proposta inicial. São dois filmes em um e, afinal, tem seu potencial desperdiçado.