Esta crítica faz parte da cobertura da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 17 e 30 de outubro na cidade.
Vera (Geraldine Chaplin) é uma atriz que chega à República Dominicana para realizar um sonho: reencontrar seus amigos do mundo do cinema, entre eles Henry (Udo Kier), para que possam gravar um roteiro inédito. Trata-se do musical A Fera e a Festa, escrito pelo cineasta dominicano Jean-Louis Jorge, que faleceu em 2000. Acontece que Jorge realmente existiu e partiu dos diretores do filme, Laura Amelia Guzmán e Israel Cárdenas, a ideia de adaptar o roteiro dele. Ou seja, A Fera e a Festa é o filme e o filme dentro do filme em um processo metalinguístico.
Essa proposta parece ser bastante interessante, mas na prática a execução é confusa. O roteiro original trata de uma história de vampiros, que aqui é borrada com os personagens apresentados. A própria Vera passa o filme inteiro com um casaco de vinil preto, que range ao menos movimento, às vezes com a gola levantada, remetendo ao imaginário de um vampiro clássico.
O sangue é um elemento visual recorrente, que aparece na boca de uma estátua de mármore ou no corpo de uma dançarina nua e morta em uma banheira. Quando os dançarinos são contratados, um deles, Yony, com longos cabelos, corta sua coxa em um acidente com um vidro. Vera acode e lambe os dedos com que manipulou o sangue. Mais para frente diz que ele é deu neto e que sabe disso porque “têm o mesmo sangue”. A androginia das criaturas míticas e monstruosas também é acionada na aparência de Vera, mas também de Yony e de Stonem, a assistente.
As mortes que deveriam acontecer no filme que está sendo encenado, passam para a produção fictícia. Nesse momento há que se destacar que a estética utilizada é interessante, não só dos figurinos citados, que geram ambiguidades, mas também na fotografia que capta diversos momentos na hora dourada, tornando a água do mar vermelha e fazendo as cenas adquirirem um tom onírico.
Mas, afora isso, o filme e o filme dentro do filme se embaralham de uma maneira pouco atrativa. Talvez com algum contato com a filmografia de Jean-Louis Jorge o contexto auxiliasse o entendimento, mas como uma obra solo, que precisa funcionar por si só, a narrativa acaba por perder seu rumo. A Fera e a Festa pode até funcionar como proposta de exploração experimental, mas como um filme por si só, confunde mais que entretém.



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