Estante da Sala

Assassinato em Gosford Park (Gosford Park/ 2001)

Assistido em 15/11/2013

Há alguns meses havia escrito que comecei a assistir Downton Abbey. O primeiro impacto havia sido bastante positivo: lindos figurinos da década de 1910 e uma trama que parecia interessante ao ressaltar as relações entre a antiga nobreza e a vida de seus criados no andar debaixo naquele começo de século. Após o término da quinta temporada, o que tenho a dizer é que os figurinos, agora já na década de 20, continuam lindos, mas a trama provou-se um grande novelão. O criador e roteirista, Julian Fellowes, não hesita em tratar a criadagem como os maiores conservadores e mantenedores de status sociais, a classe média como simplórios deselegantes e garantir que a nobreza, séria e prudente, tenha a razão ao final de cada linha de história, além de lançar mão de artifícios como amputação, gravidez de risco ou fora do casamento, namorados sumidos, estupro, viuvez precoce e outros, sempre apelando para o drama folhetinesco.

Por causa da série, resolvi rever Assassinato em Gosford Park, dirigido por Robert Altman, com roteiro também de Julian Fellowes. A dinâmica entre a velha nobreza com porte, a classe média deselegante e os criados conservadores também se faz presente nessa trama. Dessa vez a história se passa na década de 1930, em uma casa de campo em que um grupo de pessoas se reúne para passar os dias. Há o dono da casa, William (Michael Gambon), sua esposa Sylvia (Kristin Scott Thomas), sua cunhada Isobel (Camilla Rutherford), alguns outros nobres, como Lady Trantham (Maggie Smith, também em Downton Abbey), e um astro de cinema americano, Ivor Novello (Jeremy Northam). O elenco é grande e leva um tempo para se familiarizar com todos. Fellowes parece ter vasto conhecimento sobre o funcionamento de casas como essa e isso transparece no tratamento que dá aos papéis dos empregados. Ao mesmo tempo, eles estão sempre julgando e trocando informações sobre os convidados, não parecendo aprovar modernidades ou hábitos diferentes, como o vegetarianismo de um deles. Os nobres parecem manter as aparências e a pompa. Certa hora é perguntado ao ator como ele aguenta essas pessoas. Ele responde que é porque passa a vida interpretando-as.

A casa transmite a sensação de perigo iminente. Em diversas cenas aparecem vidros de venenos, facas, armas de fogo e a sensação é de que algo ocorrerá. Até que durante a noite o anfitrião é morto. O crime só pode ter sido cometido por alguém de dentro da casa. A ambientação e trama ajudam a aproximar o filme de uma adaptação da obra de Agatha Christie. Mas, o invés de Hercule Poirot, temos o inspetor Thompson (Stephen Fry) na investigação.

O filme é bonito, bem executado, tem um belo design de produção e entretém muito bem. É pena que passados doze anos de seu lançamento, ele só venha a comprovar que Fellowes é um escritor que embora demonstre grande conhecimento histórico, é monotônico. Talvez seja um daqueles filmes em que o passeio pela obra é melhor que o destino final.

gosford park

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