Assistido em 15/02/2014
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Em Frozen, nova animação da Disney, o estúdio aproveita-se do que faz tradicionalmente de melhor, e, quebrando paradigmas, entrega um grande e cativante filme. Ele é livremente inspirado no conto A Rainha da Neve, de Hans Christian Andersen. Na trama, as protagonistas são duas princesas do reino escandinavo de Arrandelle: Elsa, a mais velha; e Anna. Muito amigas na infância, Se distanciaram quando Elsa passou a ficar a maior parte do tempo em seu quarto, isolada. Isso aconteceu pois possui a capacidade de criar gelo e neve e em uma brincadeira com a irmã, feria-a sem querer. Para proteger os demais de seus próprios poderes descontrolados, distanciou-se de todos. Com o falecimento de seus pais, quando atinge a maioridade, o palácio é aberto para uma grande festa de coroação. Em certo momento, assustada, Elsa perde o controle sobre seus poderes, e assusta a população. Foge para as montanhas, criando seu próprio palácio e Anna vai atrás dela convencê-la a voltar.
As duas irmãs funcionam muito bem como protagonistas do filme: Elsa defensiva, retraída e Anna corajosa e aberta a aventuras: e os visuais das duas externam suas diferenças. É ótimo que, como em Enrolados, a agência não seja negada às personagens femininas. Elas são decididas e obstinadas. Além disso, na maior parte da jornada, não há um príncipe presente, pois o Príncipe Hans fica na cidade quando Anna parte. Aliás, uma das mensagens do filme é a de que não devemos acreditar em um príncipe encantado, pois eles não existem. Essa visão é muito positiva para as crianças, especialmente as meninas, a quem geralmente se ensina passividade. O companheiro de jornada de Anna é Kristoff, um simpático (e plebeu) homem das montanhas que trabalha extraindo gelo, na companhia de sua rena Sven. Geralmente em filmes de animação há animaizinhos falantes, mas aqui é Kristoff que faz a voz de Sven, falando consigo mesmo, aludindo de forma divertida a tal fato. De qualquer maneira, sua participação jamais ofusca as duas irmãs.
Por muitos anos animações com números musicais haviam caído em desuso, mas em Frozen eles são trazidos de volta, na melhor tradição Disney e com grande beleza. Uma pena que sessões legendadas são escassas, pois o elenco da dublagem original é composto majoritariamente por atores da Broadway. De qualquer forma as versões brasileiras das músicas ficaram suficientemente bonitas, embora certos versos não encaixem na métrica de algumas canções. Achei que a participação de Fabio Porchat, como o boneco de neve Olaf, seria incômoda, mas ele não chega a atrapalhar: o personagem é um ótimo alívio cômico e não um sidekick irritante.
A modelagem dos personagens impressiona, pois todas as texturas das roupas, como bordados e apliques, são visíveis, bem como os tecidos, sejam lãs ou veludos, são distinguíveis. O gelo é muito bem feito e o visual todo do filme é muito bonito. Só lamento que um elemento tão impressionante como o castelo de gelo tenha sido tão pouco explorado e mostrado em cena.
A força maior do filme reside em seu final: deixando de lado os clichês estabelecidos nos demais contos de fadas, ele reafirma a importância da amizade entre as duas irmãs e coloca qualquer outra forma de amor em segundo plano. No caso de Elsa, especificamente, isso sequer passa pela mente da personagem, que tem preocupações maiores para lidar. Não é que o romance não esteja lá: para os que fazem questão, ele está. Mas ele simplesmente não é um objetivo de vida para essas princesas, como costumava acontecer com outras do passado. Novamente, considero isso um belo exemplo para as crianças. Frozen se estabelece como uma visão contemporânea sobre princesas e consegue fazer aquilo que Valente se propôs, mas tropeçou: criar personagens femininas fortes, autônomas e livres, sem concessões, tudo isso em um filme emocionante e esteticamente belíssimo.
Para ler minha análise do figurino de Frozen, acesse aqui.
Adorei o filme! Há um bom tempo os filmes Disney tinham perdido parte do “encanto” comigo, mas o Frozen voltou a deixar aquela sensação boa de de sair deslumbrado do cinema. Para mim é forte candidato a novo clássico 🙂