Assistido em 28/01/2013
Quando eu era criança a gente comia muita fruta do pé e pão feito em casa. Brincava no jardim ou passava a tarde vendo desenho, mas não passivamente sentado. Pegava os brinquedos e espalhava na sala enquanto a TV estava ligada. Lanchinho da tarde era tomate, cenoura, maçã, banana espinafre e, eventualmente, alguma bolacha. Laranja, era pelo menos umas duas por dia. Iogurte era raro, chocolate era só na Páscoa, Natal e aniversário e refrigerante só no almoço de domingo. Fast food mal tinha chegado no interior longe demais das capitais. Por isso esse documentário, que fala sobre a epidemia de obesidade infantil, choca tanto. Realizado pelos mesmos produtores do ótimo Criança, a Alma do Negócio, ele volta a fazer a relação entre a publicidade voltada para crianças e os seus hábitos de consumo. A maneira covarde com que a publicidade apela para a falta de entendimento de realidade das crianças e o apelo dos brinquedinhos e personagens que acompanham os alimentos industrializados é notável. As crianças comem marcas. E isso em todas as regiões do país e todas as classes sociais. O documentário chega a entrevistar pessoas em Manaus e mostrar famílias no interior do Amazonas, onde frutas são muito raras e caras e salgadinhos chegam a preços baixíssimos. Os pais dizem que os filhos pedem, choram, esperneiam e eles acabam dando. As propagandas martelam incessantemente e de maneira desonesta. Refrigerante virou bebida diária, fritura é o lanchinho da tarde, salgadinho ou miojo é almoço, fast food se come toda semana. Imitando um método que o chef Jaime Oliver, ativista pela melhoria da alimentação das crianças tanto na Inglaterra, como nos Estados Unidos, usa em seu programa de TV, os entrevistadores usam a tática de mostrar frutas e verduras para as crianças e perguntar o que era. Um pimentão é chamado de abacate. Um chuchu também. Elas dizem adorar batatinha chips de pacotinho, mas ao ver uma batata in natura perguntam se é uma cebola. Assustador. E os resultados logo aparecem: diabetes, pressão alta, dificuldade para respirar, dor nas articulações e diagnósticos dignos de pessoas idosas. Enfim, está mais do que na hora de regular a publicidade voltada para o público infantil.