Estante da Sala

Figurino: Um Príncipe em Nova York

Texto originalmente publicado na coluna Vestindo o Filme em 05/06/2015.

Clássico da Sessão da Tarde, Um Príncipe em Nova York é uma comédia-romântica escrita por Eddie Murphy, dirigida por John Landis e com figurino de Deborah Nadoolman, estabelecida como um dos grandes nomes dos anos 80. A figurinista criou trajes icônicos como a jaqueta vermelha de Michael Jackson em Thriller e a roupa de Indiana Jones, incluindo sua jaqueta e chapéu, característicos do personagem; mas, infelizmente, precisou parar de trabalhar na área para cuidar dos filhos.
Neste filme de 1988, Eddie Murphy interpreta o príncipe Akeem, herdeiro do trono de Zamunda, país fictício da África. É seu 21º aniversário e ele precisa casar-se, mas pede ao seu pais, Rei Jaffe Joffer (James Earl Jones) e sua mãe, Rainha Aoleon (Madge Sinclair) quarenta dias nos Estados Unidos antes de fazê-lo. Zamunda é retratado de maneira idílica, repleto de zebras e elefantes e com um grande palácio em meio a palmeiras. A decoração no interior utiliza elementos da flora e fauna local. Nesse contexto, o príncipe possui uma rotina de ócio e cuidados especiais, mas o distanciamento em relação aos pais é destacado. Em oposição, os Estados Unidos aparecem com ruas sujas, mendigos, violência e uma sociedade de consumo que valoriza a imagem pessoal.001

A corte contava com petaleiras, moças que jogavam pétalas de rosas para que a realeza pisasse sobre elas. Elas vestem roupas com corte marcante da década e estampas intrincadas, além de turbantes.

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A variedade de estampas, bem como o colorido, aliados a turbantes e grandes ombreiras marcam os trajes das mulheres da corte. Trata-se da composição de uma África imaginária, que tem elementos de diferentes origens como referência.

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A roupa da mulher que banha Akeem, por exemplo, remete a outra visão fantasiosa, dessa vez do Egito.

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Os dançarinos são adornados com miçangas coloridas e penas de faisão. O traje, apesar de ter enfeites pesados, precisava permitir os movimentos e acrobacias.

Croqui do traje das dançarinas.
Croqui do traje das dançarinas.

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Os acessórios são de grande importância, mesmo em personagens secundários; e é possível ver o uso de braceletes, tornozeleiras, colares e brincos, tanto por homens quanto por mulheres. Há, ainda, a influência da moda do período, que aparece nas grandes ombreiras, no dourado e nas silhuetas grandiosas.

O rei utiliza paletó, mas acrescido de elementos que indicariam a tradição do país, como o colar com grandes peças de ouro e coral vermelho, os barretes decorados com elementos geométricos e a capa com uma grande cabeça de leão. A coroa é adornada por pedrarias e corais dispostos de forma orgânica.

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A rainha, por sua vez, usa menos elementos estrangeiros, dando preferência a túnicas estampadas, turbantes, muitos bordados e joias grandes, além de peles.

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O próprio Akeem possui uma versão do adorno de leão de seu pai: um pequeno leopardo que carrega no ombro. Além disso tem um colar semelhante a ele. Ao chegar em Nova York também utiliza um sobretudo com as mangas atadas às costas, vestido como uma capa. As grande ombreiras e peles, ampliam a sensação de ombros largos.

Croquis dos trajes de Akeem na corte e na cidade de Nova York.
Croquis dos trajes de Akeem na corte e na cidade de Nova York.

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Para passar despercebido entre os locais, adquire, juntamente com Semmi, roupas de turista, repletas de referências à cidade, que tornam sua aparência cômica. Mas logo eles irão se adaptar ao visual cinza e marrom da cidade, com uso de sobretudos e suéteres.

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Lisa (Shari Headley) foge dessa regra: ela sempre veste elementos rosas ou vermelhos, de maneira a marcar a feminilidade tradicional que ele busca em sua noiva, uma vez que o tratamento conferido às mulheres no filme é bastante conservador. Quando ela briga com seu namorado e conversa com Akeem, que está trabalhando em sua casa, a roupa dos dois os conectam.

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Não por acaso, seu vestido de noiva vai ser cor-de-rosa. Não somente isso, vai ser volumoso e com uma grande cauda, digno de uma princesa do conto de fadas aqui se delineia. As demais mulheres também usam tons pastel, adequando-se àquele momento.

Esboço do vestido de noiva de Lisa.
Esboço do vestido de noiva de Lisa.

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O figurino de Um Príncipe em Nova York, assim como a ótima maquiagem, foi indicado ao Oscar, perdendo para Ligações Perigosas. Se por um lado nem o diretor nem a figurinista são pessoas negras (e é possível questionar a imagem de africanicidade que o filme compõe), por outro Deborah Nadoolman trabalha com a criação de um conto-de-fadas com uma expressividade não-europeia, como raramente se vê. O resultado é memorável.

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1 thought on “Figurino: Um Príncipe em Nova York

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