Esta crítica faz parte da cobertura do 8ª Olhar de Cinema- Festival Internacional de Curitiba, que ocorre entre 5 e 13 de junho na cidade.
Dora García é uma artista espanhola e Segunda Vez é seu primeiro filme como diretora. Sua familiaridade com outras formas de expressão artística transparece. Sua proposta é a recriação de três happenings realizados nos anos de 1960 pelo psicanalista Oscar Masotta, na Argentina.
As reencenações são entremeadas por outras imagens. Alguns homens carregam um corpo envolto em tecido branco em uma floresta. Um grupo de pessoas assiste a um helicóptero que sobrevoa uma espécie de campo aberto, próximo a um barranco. Lá de cima, uma atriz vestida de vermelho acena para os demais. Pessoas, entre elas idosos, ficam de pé em uma plataforma, sob luz e música intensas, aparentemente por horas, enquanto outros, parados a sua frente, os observam. Frequentadores de uma biblioteca sussurram conversas enquanto pessoas no mezanino olham para elas. Um grupo de pessoas aguarda para ser interrogada em um ambiente com aparência de repartição, com diversos corredores e outras pessoas de jaleco. Uma delas é um jovem que é a única delas que está voltando uma segunda vez.
O contexto político em que as obras originais foram realizadas e as peças que complementam a reencenação dão pistas sobre a pretensão da autora. A ditadura e toda forma de controle e vigilância sobre discursos e sobre corpos e o medo (ou, por vezes, curiosidade) que daí emerge ficam patentes. Mas a mistura de performance com falas sobre Lacan e psicanálise e a pouca informação concedida ao pública sobre as obras que estamos testemunhando torna tudo muito hermético. Apesar da temática ser clara, a intencionalidade do discurso é difusa e o resultado final é de difícil assimilação. Trata-se de uma obra audiovisual mais próxima de uma vídeo-instalação do que de um documentário.
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