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Uma diretora com um filme indicado e um premiado com o Oscar de melhor filme estrangeiro. Uma atriz e um ator que, nos últimos anos, sempre são lembrados nas grandes premiações. Um drama de época em uma linda paisagem bucólica. O que poderia dar errado em SERENA? Aparentemente, tudo.
A trama: em 1929, em pleno período de depressão nos Estados Unidos, Pemberton (Bradley Cooper) é um empreendedor, que tenta avançar a ferrovia para o interior da Carolina do Norte e assim expandir seus negócios madeireiros. Em uma viagem para a cidade conhece Serena (Jennifer Lawrence), uma jovem de grande riqueza. Os primeiros quinze minutos do filme tratam de estabelecer de maneira novelesca a paixão avassaladora que se estabelece entre os dois e que leva a um casamento apressado.
Pemberton leva Serena para o interior. Nada mais contrastante com a pobreza em azul e cinza do lugar que as roupas em ricos tons de amarelo e verde, cobertas por peles, que ela usa. Mas Serena é uma mulher de negócios pronta para ensinar aqueles ao seu redor. Não se intimida diante da dureza do ambiente que a rodeia, nem com a dos homens locais. Veste calças e vai a labuta junto com eles, sendo por vezes condescendente, em outras beirando o heroísmo.
Aí entra o ponto de desequilíbrio da história: Pemberton já tinha um filho com outra mulher, Rachel (Ana Ularu) e o ciúme de Serena por esse herdeiro a consome. Em determinado ponto da trama, a personagem fala “Eu não sou esse tipo de mulher” [que tem medo], mas isso funciona como uma quebra de lógica na narrativa, uma vez que ao invés de haver uma preocupação em mostrar isso em suas ações, coloca-se ela falando algo que pode ser facilmente desmentido pelo que vemos. Mostrar, ao invés de contar, sempre funciona melhor.
Susanne Bier, experiente e renomada diretora dinamarquesa, contou com grandes dificuldades na pós-produção, uma vez que o estúdio tinha ideias diferentes das delas em relação ao produto final. E as divergências transparecem na montagem: não só o filme não tem tensão nem ritmo, como as sequências são desconjuntadas e desconectadas umas das outras, criando uma experiência convoluta ao assisti-lo. As linhas de desenvolvimento de cada personagem, por vezes, sequer se conectam e subtramas políticas e econômicas pouco acrescentam à história. A direção insegura contribui para que a atuação dos dois protagonistas oscile entre o sem viço e o drama excessivo.
Ao primeiro ato apressado, segue-se um em que a personagem-título parece desmoronar diante de nossos olhos. Devorada por uma fúria irracional, nada há da mulher segura que foi apresentada minutos atrás. Para completar, o terceiro ato degringola em um thriller de ação, com mais uma quebra brusca na narrativa.
SERENA se favorece de uma bela fotografia filtrada em azuis e laranjas. O figurino também é bonito e cumpre bem seu papel. Constantemente de calças, é notável que, quando anuncia sua gravidez, Serena veste saia. Em outro momento, mais à frente, utiliza um lenço amarelo vivo ao pescoço, o que destoa do ambiente rústico da floresta por onde caminha. Mas o lenço vai desempenhar um papel essencial em um salvamento e essa foi a forma de a direção de arte chamar atenção para sua presença.
SERENA é o tipo de filme que desperta em você a vaga curiosidade a respeito do que ele poderia ter sido. Mas é vaga, pois não há elementos bons o suficiente para que ela se sustente por mais que alguns instantes.
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