Estante da Sala

Jane Eyre e suas adaptações

Esse mês o livro escolhido para leitura e conversa no Grupo de Leitura do Feito por Elas foi Jane Eyre, de Charlotte Brontë. Ele é um dos meus preferidos da vida e eu poderia ter participado dos debates informalmente, mas optei por relê-lo. E uma vez tendo feito isso, resolvi, talvez obcecadamente, ver algumas de suas adaptações audiovisuais. Nesse texto contarei um pouco de minhas impressões. Começando pelo livro: que leitura maravilhosa! Jane Eyre, a protagonista que dá nome à trama, é uma garota órfã de 10 anos que é enviada pela esposa de seu falecido tio para um internato

Figurino: A Colina Escarlate

Texto originalmente publicado na coluna Vestindo o Filme. Fantasmas são reais, isso eu sei. Eu os vi toda a minha vida … Em cartaz nos cinemas, A Colina Escarlate é um romance gótico que se disfarça de história de terror. A protagonista, uma escritora chamada Edith Cushing (Mia Wasikowska), fala sobre suas obras algo que também se estende ao filme: são histórias com fantasmas, não histórias de fantasmas, pois eles representam o passado. O diretor Guillermo del Toro confeccionou a trama entremeada de elementos visualmente marcantes. A figurinista é Kate Hawley, que já havia trabalhado com ele em seu filme anterior,

Figurino: Amantes Eternos- a invenção de um oriente exótico

Texto originalmente publicado na coluna Vestindo o Filme em 08/05/2015. Quem não sonhou a terra do Levante? As noites do Oriente, o mar, as brisas, Toda aquela sua natureza Que amorosa suspira e encanta os olhos? (Trecho do poema O Cônego Filipe, de Álvares de Azevedo) A citação inicial dessa análise não vem por acaso. Poeta romântico, Álvares de Azevedo segue os preceitos da escola literária, entre eles a exaltação da natureza, a visão trágica do mundo e a idealização do assim chamado Oriente. Adam (Tom Hiddleston) e Eve (Tilda Swinton), os protagonistas de Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive,

O Duplo (The Double, 2013)

https://www.youtube.com/watch?v=BxaqJstf-KE Não é incomum ver filmes sobre pessoas lidando com dificuldades em relação a maneira como são percebidas pelas demais. O Duplo, dirigido por Richard Ayoade, é um exemplo bem realizado disso, trabalhando não uma realidade crível, mas uma espécie de distopia com um protagonista que projeta suas expectativas. Não li a obra de Dostoievsky em que ele foi baseado, mas o tom da adaptação parece ser menos do autor russo e mais kafkiano, com seus absurdos burocráticos. Brazil, de Terry Gilliam também vem a mente diversas vezes pelo mesmo motivo. A trama traz Simon James (Jesse Eisenberg), que trabalha há

Amantes Eternos (Only Lover Left Alive, 2013)

Amantes Eternos, de Jim Jarmusch, é um filme de ambientes e personagens, de uma simplicidade complexa e hipnótica. Eve (Tilda Swinton) e Adam (Tom Hiddleston) são dois amantes separados pelo espaço: ela mora em Tanger (Marrocos) e ele em Detroit. As sequências inicias já deixam claro a poética e beleza do filme: o universo gira e eles giram após beberem um pequeno cálice de sangue cada. A palavra “vampiro” jamais é mencionada no filme, mas sua natureza é logo deixada clara. Quando Eve sai de casa, vestindo um traje claro e com um véu cobrindo-lhe parcialmente os cabelos e o

Figurino: Segredos de Sangue – Uso de cores e imagético poderoso

Texto originalmente publicado na coluna Vestindo o Filme em 13/03/2014. Às vezes você precisa fazer algo ruim para se impedir de fazer algo pior. O título original de Segredos de Sangue, de 2013,  é Stoker. Tal nome é uma clara referência a Bram Stoker, autor do clássico Drácula, e entrega uma pista: embora eles não se façam presentes, pode-se dizer que é uma história clássica de vampiros, retratando a solidão, a incompreensão da própria natureza e fazendo relação entre sedução e perigo. Em seu primeiro filme de língua inglesa, o diretor Chan-wook Park constrói um imagético poderoso, com uso característico de cores