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James Vanderbilt é roteirista, conhecido pelos dois filmes do Espetacular Homem-Aranha e Zodíaco, de David Fincher. Conspiração e Poder é o primeiro filme que dirigiu (além de ter roteirizado, claro) e chama a atenção o elenco de peso que embarcou no projeto. O longa aborda o jornalismo televisivo, especificamente uma história real que ocorreu envolvendo a produção do programa 60 Minutos, um dos mais tradicionais da televisão estadounidense. Em 2004 a produtora Mary Mapes (Cate Blanchett) encontrou indícios de fraude envolvendo o então presidente George W. Bush e sua alocação no exército durante a Guerra do Vietnam. Em plena corrida para a reeleição, qualquer tipo de informação negativa sobre um candidato poderia ter grande peso sobre o resultado. Além de Mapes, a equipe da investigação era composta pelo âncora Dan Rather (Robert Redford), os jornalistas Lucy Scott (Elisabeth Moss) e Mike Smith (Topher Grace) e o Tenente Coronel Roger Charles (Dennis Quaid). O roteiro é adaptado diretamente do livro Truth and Duty: The Press, the President, and the Privilege of Power, escrito pela própria Mapes.
Trata-se de uma história procedural, que mostra como funcionam as etapas investigativas de uma reportagem de grande porte e a dinâmica de relacionamentos entre os profissionais. Mapes confiou no fator humano durante as etapas de verificação das fontes e, com a pressão para fechar o conteúdo, deu por verdadeiro tudo que lhe foi apresentado. Um item essencial para credibilidade da história veio de fonte duvidosa e, em se tratando de informação que poderia encerrar a presidência de Bush, pressões políticas e econômicas que vinham anônimas de camadas superiores da hierarquia passaram a assombrar o trabalho da equipe.
A busca pela verdade é o mote da trama, mas a abordagem, até mesmo pela fonte do texto, é bastante tendenciosa. Nenhum problema: toda obra de arte é propaganda e escolhe um lado. Mas o ritmo irregular da narrativa não ajuda na imersão total. Além disso, os diálogos extremamente expositivos distraem e atrapalham em diversos momentos. Há um cena, por exemplo, em que Charles explica a Lucy como um telejornal replica o conteúdo do outro, fato que ela obviamente está ciente. Esse é apenas um exemplo entre muitos momentos em que os personagens explicam uns aos outros o que está acontecendo ou fazem perguntas deliberadas para levar a respostas que narram aos fatos, claramente tentando entregar essas informações ao espectador. Isso sem falar na tradicional cena de discurso grandioso, que também acontece.
Em um ano em que Spotlight, outro procedural de jornalismo, ganhou o Oscar de melhor filme, é difícil não comparar as duas películas. Nesse caso, Conspiração e Poder acaba funcionando como uma contra-prova às críticas de que, minimalista e elegante, Spotlight seria um filme sem direção. A qualidade da obra final lá comprova uma direção madura, em oposição à claudicante e insegura aqui. Não que Conspiração e Poder seja um filme ruim, mas ele se beneficia de uma história minimamente interessante e de atuações de peso. Cate Blanchett, mais uma vez, a despeito do roteiro que lhe é entregue, comprova a grande atriz que é.
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