Assistido em 09/03/2013
Um Lugar Qualquer é o último filme escrito e dirigido por Sophia Coppola e passou meio batido na época de seu lançamento. A recepção foi morna e eu mesma acabei adiando o momento de vê-lo. Talvez foi até bom, porque vi sem nenhuma expectativa e terminei encantada. Acredito que como a diretora conseguiu muito sucesso desde o começo de sua trajetória atrás das câmeras, as cobranças são sempre grandes quando um filme seu é lançado. Naquele fatídico ano de 1999 Sophia tinha apenas 28 anos e foi muito bem recebida com As Virgens Suicidas. Eu, com a metade de sua idade, fiquei absolutamente apaixonada por aquele universo de meninas com idades próximas a minha, confinadas em um mundo interiorano de expectativas futuras e retratadas pela visão de seus vizinhos, com fotografia poética e visual melancólico e onírico. A sensação de assistir esse filme, assim como a identificação com as quatro irmãs Lisbon, nunca saiu de mim.
Talvez por isso não tenha criado tanta identificação com o filme seguinte, Encontros e Desencontros (de 2003), um retrato da efemeridade da união de duas solidões. No filme seguinte, Maria Antonieta, de 2006, há uma explosão de cores pastel, num mundo de frivolidades recheado com figurinos luxuosos; mas faltou um pouco da alma dos filmes anteriores.
Em Um Lugar Qualquer essa alma está toda de volta. Na verdade alma é praticamente o que compõe o filme. Talvez por isso as críticas tenham sido tão mornas: pela expectativa de algo com “mais história” (embora todos os filmes anteriores tenham sido intimistas, alguns mais que os outros). Para começar o orçamento é cinco vezes menor que o de seu predecessor. Na trama, um ator de sucesso, divorciado, Johnny Marco, passa a ficar com a filha de 11 anos, Cleo, em casa quando sua ex-esposa viaja sem previsão de voltar. “Casa”, na verdade é uma suíte uma suíte de hotel de luxo em que ele mora. No recorte de tempo que o filme cobre, eles viajam para fazer filmagens e cobrir eventos internacionais, como um prêmio na TV italiana. O plot é tão leve que quase não está lá: na verdade ele é a interação entre pai e filha e as tentativas de conexão entre os dois, que aparentemente não convivem muito. É difícil não enxergar nesse retrato agridoce um pouco de como deve ter sido a infância da própria Sophia junto a seu pai famoso, Francis Ford Coppola. Há momentos em que a fotografia cria cenários irreais, como quando estão perto da piscina (na imagem que virou o cartaz do filme). A atuação de Elle Fanning é uma graça, como sempre. No final das contas é difícil explicar porque gostar deste filme: é um filme de sutilezas e delicadezas, pouco palpáveis e complicadas de transcrever. E no final nos deixa com uma mensagem de mudanças e de possibilidades.