“He’s not evil, he’s just… young”.
Não sou nenhuma especialista em mumblecore, movimento de onde saiu Noah Baumbach, diretor de Enquanto Somos Jovens. Mas mesmo sem ter muito referencial sobre esse contexto, o pouco que vi, gostei. Antes desse filme só havia assistido a Frances Ha, um filme com o qual me identifiquei muito. E aqui novamente ele consegue facilmente criar empatia entre expectador e personagens, graças a construção bastante humana destes.
Dessa vez os protagonistas são quatro: Josh (Ben Stiller) e Cornelia (Naomi Watts) um casal de quarentões; e Jamie (Adam Driver) e Darby (amanda Seyfried), jovens de vinte e poucos anos. O contraste é preciso. Os primeiros vivem em um mundo pacato, em que seus amigos já tem filhos e suas vidas não passam mais por grandes mudanças. Já os outros vivem uma vida repleta de atividades intensas e novidades. Para a geração mais velha, a tecnologia é algo que foi aos poucos entrando em sua vida e dela faz parte. A geração mais nova, que se tornou adulta após a crise de 2008 nos Estados Unidos, tem apego pelo retrô, como a máquina de escrever, o vinil e as roupas de brechó, bem como por uma atitude de faça-você-mesmo que se impregna até mesmo no mobiliário ou na vida profissional (Darby, por exemplo, faz sorvetes artesanais). Novamente, é difícil não comparar a vivência deles com o que é mostrado no seriado Girls, escrito e estrelado por Lena Dunha para a HBO.
(Abro um parênteses para dizer que, enquanto “trintona”, é difícil também não pensar no que tenho em comum com ambos os lados. Se por uma lado amigos casam, têm filhos, e carreiras estabelecidas, certas atitudes inconsequentes dos mais jovens já me cansam e a tecnologia se infiltrou em minha vida e me fez ter pouco apego às coisas físicas – filmes e músicas são digitais e livros, embora os tenha, prefiro comprar eletrônicos, em virtude do espaço-; por outro o fazer com as próprias mãos -roupas e outras costuras, objetos de decoração e até móveis, com ajuda de mais gente- tem apelo para mim. Voltando…)
Para os mais velhos, esse estilo de vida desapegado, em que tudo pode virar outra coisa e as mentes estão abertas para outras experiências, pode ser muito sedutor. Mas o fato é que toda geração estranha aquela mais velha que a sua, mas também repreende a mais jovem. É por isso que Josh se sente julgado por seu sogro, que assim como ele, é documentarista. O ponto forte do filme está justamente aí: quando ele explora os conflitos geracionais e dificuldade de cada um em entender o que outro pensa e sente.
Dessa forma, a trama se perde quando tenta personalizar determinados hábitos, para então vilaniza-los. O que até então se apresentava como diferença de idade, passa a ser diferença de caráter. Além disso, uma sequência que envolve uma festa com consumo de ayahusca parece desconectada do resto da narrativa, pois apela para um humor barato, beirando o escatológico e não traz grandes revelações a respeito dos envolvidos.
Mas, como um todo, o filme funciona: é divertido e leve. Talvez não seja, como Frances Ha, um retrato tão pungente de um período da história e das vidas de pessoas comuns, mas ainda assim é construído com sensibilidade na medida certa.
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