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Dirigido por Spike Jonze, Ela é uma ficção científica futurista extremamente crível em seus detalhes, se pensarmos em como é nosso presente e como é a tendência de caminharmos como humanidade.
Em um futuro não tão distante, Theodore (Joaquin Phoenix) está atravessando um processo de luto pelo término de seu casamento com Catherine (Rooney Mara). Isola-se de seus amigos e dedica-se ao seu trabalho, como escritor-fantasma de cartas. Esse fato é extremamente importante para a história: as pessoas tem tanta dificuldade em lidar de forma honesta com suas emoções, que enviam fotos e alguns dados para um empresa, que possui escritores para redigir cartas e cartões por elas, sendo esses impressos em suas próprias caligrafias. É a total terceirização da emoção. Theodore, uma contradição ambulante, não consegue lidar com seus próprios sentimentos de maneira madura, mas elabora textos lindos a respeito de pessoas que jamais conheceu.
As pessoas organizam sua vida através de Sistemas Operacionais que atuam de maneira integrada no celular e nos computadores por onde passam, com interação via voz através de um fone de ouvido intra-auricular. Isolam-se e andam pelo mundo falando consigo mesmas. Tudo isso é perfeitamente crível com o nível de tecnologia que temos hoje. Então é lançado um sistema operacional com inteligência artificial, que aprende com suas próprias experiências e se molda às necessidades de quem o possuir. Theodore compra um e ao instalá-lo opta por utilizar voz feminina: e assim Samantha (Scarlett Johansson) entra em sua vida.
Logo na primeira noite de seu funcionamento, Theodore fala a ela “você me conhece tão bem!”. Nada mais fácil, afinal, por mais realista que possa parecer a interação, ainda é o cálculo de uma inteligência artificial. É mais fácil gostar de uma voz afetuosa e tecnicamente infalível do que de pessoas reais, com as quais você tem que conviver com os erros e suas consequências. Aceitar os erros alheio demanda maturidade que essas pessoas do futuro não estão dispostas a ter. Querem o afago, o apoio, a companhia perfeita, sem ressalvas. Seria apenas no futuro? É piegas, mas é bom lembrar que precisamos do calor e do contato humano.
O design de produção é inteligentíssimo: nada no futuro é muito diferente de agora. As roupas, ao invés de serem espalhafatosas e exóticas, remetem a um passado recente (a década de 1930, com suas cinturas altas), apelando para a ideia de que a moda é sempre cíclica. Acessórios são escassos, golas nas camisas são inexistentes ou muito pequenas, todos os excessos são retirados. Os cenários seguem a mesma visão de minimalismo e ao mesmo tempo familiaridade. Visualmente tudo funciona muito bem e é muito bonito.
Joaquin Phoenix entrega uma atuação memorável, cheia de camadas e de fragilidade. Scarlett Johansson se sai melhor que sua média. Amy Adams, que interpreta uma amiga de Theodore, chamada Amy, está absolutamente adorável.
Confesso que esperava mais emocionalmente do filme. Um lado ruim das expectativas criadas. Mas em uma temporada de premiações com tantos filmes medianos, sem dúvidas este será um dos poucos lembrados daqui há uns anos. As questões por ele levantadas chegam a ser contemporâneas e não as vejo perdendo força nos próximos anos. É uma obra de delicada beleza e sensibilidade.
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