As leituras esse ano renderam, ainda mais se eu pensar no tanto de capítulos e de artigos que, por não serem livros inteiros, ficam de fora. Como sempre, esse foram os livros que mais gostei de ler no ano, não necessariamente lançados em 2015. Alguns já foram comentados aqui no blog e os links para as postagens estão em seus títulos.
Ficção
Jane Eyre- Charlotte Brontë
Confesso que o desejo de ler esse livro veio ao assistir à adaptação para o cinema dirigida por Cary Joji Fukunaga e estrelada por Mia Wasikowska. Fui atraída pelo trágico e pelo clima gótico da história e queria saber até que ponto isso era fiel ao material original. O Morro dos Ventos Uivantes, de uma das irmãs de Charlotte, Emily Brontë, já é um dos meus livros preferidos, mas ouso dizer que gostei ainda mais desse. Jane é uma heroína forte e o romance com Rochester é interessante no contexto da época. A ambiguidade, até certo ponto, quando se trata dos fantasmas é enriquecedora e finalmente entendi a famosa metáfora da mulher louca no sótão. Um livro intenso e apaixonante.
Americanah– Chamamanda Ngozi Adichie
A escrita de Chimamanda Adichie é fluida e torna prazeroso acompanhar Ifemelu, sua protagonista, que nem sempre é uma pessoa fácil de entender. O romance, que atravessa anos, da juventude de Ifemelu na Nigéria a sua mudança para os Estados Unidos até seu retorno para a terra natal, aborda questões étnico-raciais e também sobre gênero, migração, identidade e outros temas importantes. Mas mais do que isso, é um livro delicioso.
Não-Ficção
Imagem- Violência: etnografia de um cinema provocador- Rose Satiko Gitirana Hijiki
O livro provem da dissertação de mestrado da antropóloga Rose Hijiki e é uma bela prova de que é possível etnografar um conjunto de filmes. A autora escolheu um recorte específico do cinema dos anos 90 que evoca imagens de violência.
Manifesto Contrassexual- Beatriz Preciado
O que dizer desse livro? Em determinado momento da leitura anotei do lado de um parágrafo “ge-ni-al”. Porque é assim que percebi o seu conteúdo. Beatriz Preciado constrói seu texto sobre bases como Foucault, Derrida e Donna Haraway, debatendo diretamente com Judith Butler, mas de alguma forma consegue fazê-lo de maneira clara e até fácil de entender. Sua escrita é repleta de senso de humor e de provocação. É uma leitura que leva ao questionamento de tudo que é corrente, academicamente, quando se fala em gênero e sexualidade. Para fechar, vale dizer que a proposta gráfica da edição brasileira é incrível, com ilustrações de Laerte na capa, desenhos no interior, mudança de cor da impressão e do papel, e ainda inclui um simpático “cuzinho” na capa.
Quadrinhos
Crônicas Birmanesas- Guy Deslile
Um quadrinho com toque jornalístico, contém o relato do autor da época em que se mudou com a esposa, que trabalha para os Médicos Sem Fronteiras, para a Birmânia. Questões culturais e também pessoais, sobre ser dono-de-casa e pai em período integral, passam pela história.
Daytripper- Fábio Moon e Gabriel Bá
Conheci o trabalho dos autores quando li a adaptação para quadrinhos do romance Dois Irmãos, de Milton Hatoum. Mas Daytripper realmente é a obra prima deles. Tanto o roteiro quanto o traço e a colorização são lindos. Quantas vezes se pode morrer em uma vida? Pura poesia.
Watchman- Alan Moore
Finalmente eu li Watchman! E, sim, achei maravilhoso como todos falam. A história de como seriam os super-heróis se eles realmente existissem no nosso mundo caiu como uma luva para mim, uma vez que geralmente tenho um certo desgosto com o maniqueísmo dos quadrinhos de heróis em geral. A história é ácida, pesada e contundente.