Esta crítica faz parte da cobertura da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 17 e 30 de outubro na cidade.
Três Verões, com título mais que apropriado, registra o Natal e o Ano Novo de seus protagonistas durante três anos seguidos. Em 2015 Edgar (Otávio Müller) e Marta (Gisele Fróes), donos de uma enorme casa, recebem familiares e amigos para uma grande festa. Eles comemoram bodas de porcelana, o filho está saindo de casa e o pai de Edgar, “Seo Lira” (Rogério Fróes), volta a morar com eles enquanto o seu apartamento está em reforma. Quem orquestra tudo nos bastidores é Madá (Regina Casé), a caseira.
Enquanto Madá sonha em comprar um terreno que custa dez mil reais para que possa ter seu próprio quiosque de comida, os patrões escancaram a falta de gosto e cafonice alugando obras de arte curadas especialmente para a decoração de sua casa, sem sequer serem capazes de entender qual a direção em que uma obra abstrata deve ser pendurada. As diferenças de interesses e preocupações ficam patentes.
No ano seguinte, na mesma época, as festas têm que ser canceladas porque Edgar é preso em virtude de fraudes, desvio de dinheiro e outras falcatruas econômicas. Madá e as outras empregadas da casa se vêm, num primeiro momento, sem ter completo contexto do que ocorria. Como em um regime de escravidão, continuam morando e trabalhando na casa, mesmo sem os patrões presentes. Piadas sobre tornozeleiras e a forma como ricos são presos rendem bons momentos de humor. O retrato de uma burguesia que não parece saber lidar com o novo dinheiro e da classe trabalhadora que emula seus valores, repetindo frases de efeito e valorizando determinados produtos em detrimento de outros, não é novidade, mas aparece como uma construção interessante.
Apesar disso, é difícil não comparar a personagem de Regina Casé nesse filme com a Val de Que Horas Ela Volta, dirigido por Anna Muylaert. E enquanto lá ela encarnava um reflexo preciso das relações de classe no Brasil, do tipo de subalternidade familiar que é imposta às trabalhadoras domésticas, aqui, com um humor mais solto e piadas que por vezes se prolongam demais, se torna, por vezes, caricata. Às vezes parece que com isso se criam momentos em que se ri da Madá e não com ela.
Madá mostra as diversas mansões desocupadas, pois seus proprietários todos estavam presos em escândalos de corrupção. Ela mesma é interrogada sobre os crimes do patrão e uma condução coercitiva é mencionada. Na televisão, em certo momento, se vê uma reportagem sobre a operação Lava-Jato. Mas esse breve comentário político não se aprofunda e fica a cargo de quem assiste posicionar a narrativa no nosso momento histórico.
O que se segue em dezembro de 2017 é algo de mudança e renovação, especialmente para Madá, que escancara seu passado de perdas. Com roteiro de Iana Cossoy Paro junto com a diretora Sandra Kogut, Três Verões aborda com leveza, mas às vezes também de forma caricata ou superficial, a luta de classes e a política brasileira contemporânea.
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