Assistido em 26/07/2013
A vontade súbita de assistir Barry Lyndon veio desse ranking dos filmes de Kubrick. E após tê-lo visto fico pensando em como deve ter sido sua recepção na época, na sequência de 2001- Uma Odisseia no Espaço e Laranja Mecânica. Acredito que deva ter sido um filme mal compreendido, já que até hoje ele poucas vezes é citado quando fala-se do grande diretor.
Vamos ao filme: Redmond Barry (Ryan O’Neal) é um jovem rapaz irlandês apaixonado pela prima que foge de casa após pensar que matou o noivo dela em um duelo. Viaja para a Europa continental, vira soldado na guerra, deserta, enriquece e conhece uma nobre, Lady Honoria Lyndon (Marisa Berenson), com quem pretende se casar. Tudo isso se passa ao longo de algumas décadas no século XVIII e é um um grande resumo, pois o filme tem mais de três horas de duração. A trama é uma novela de costumes recheada com um senso de humor fino. O ritmo é lento, mas mesmo assim a história em nenhum momento parece menos interessante. Kubrick aborda ela com um senso estético de cair o queixo: os enquadramentos das paisagens são lindos, o figurino é perfeitamente condizente com o período retratado, as cores sobressaem-se belas. As cenas à luz de velas têm um realismo impressionante: nada de vastos salões iluminados por um mero candelabro. O que predomina é a meia luz e as sombras. Os diálogos são bastante expositivos e teatrais. Em algumas cenas, um personagem discorre sobre tudo que quer falar com o outro com quem a conversa é entabulada e o segundo permanece em silêncio. Elas parecem pinturas, com personagens e cenário calculadamente posicionados compondo uma tela do período, movendo-se de forma lenta. Fica claro que não é o realismo que é almejado nesses momentos.
Barry é herói e anti-herói. Ele representa o povo que quer ascender socialmente, mas não passa de um aproveitador covarde. A nobreza também não é retratada com olhos melhores. Na verdade o que vemos é um grupo de pessoas refestelando-se desocupadamente, perdendo rios de dinheiros em jogatinas inúteis e lazeres supérfluos. O ridículo da riqueza fica patente na maquiagem e nos sinais de pele espalhados nos rostos destes em posições absurdas.
Assistir Barry Lyndon provavelmente exige muita paciência daqueles que estão acostumados a ver apenas filmes contemporâneos. O ritmo evoca a velocidade com que as coisas aconteciam no século XVIII. Mas cada minutos vale a pena: Kubrick nos presenteia não só com uma história de fino humor como com uma recriação de época impressionante e um espetáculo visual de encher os olhos.
Para ler minha análise do figurino do filme, acesse aqui.
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