Assistido em 28/09/2013
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Um dos grandes vilões do cinéfilo é a expectativa. O sul-africano Neil Bloomkamp nos apresentou, em 2009, Distrito 9, uma pungente crítica ao apartheid e à desigualdade social travestida de ficção científica com alienígenas. O filme, que foi muitíssimo bem recebido tanto por público quanto por crítica, gerou grande expectativa para o que viria a ser seu primeiro trabalho de direção em Hollywood. E aí chegamos a Elysium, um filme que não é ruim, mas em uma temporada repleta de ficções científicas não consegue sequer se destacar no mar de mesmice.
Na história, a Terra do século XXII está com seus recursos esgotados e a classe dominante construiu para si um satélite artificial chamado Elysium, onde moram em enormes subúrbios ajardinados e possuem avançadas tecnologias de cura. A população terrestre, empobrecida, vive em enormes favelas decadentes. O protagonista é Max (Matt Damon), que cresceu amigo de Frey (Alice Braga), mas depois tomou caminho oposto a ela: se envolveu com o crime, enquanto ela estudou para se tornar enfermeira. Tenho que concordar com Chico Fireman em seu comentário sobre a inexistência de uma classe média visível na história. Uma sociedade tão fortemente hierarquizada como essa só seria possível com uma presença marcante da classe média funcionando como capatazes dos trabalhadores braçais. Percebe-se que Frey não vive nas mesmas condições que Max e possivelmente seu gerente na fábrica também não, embora isso não seja mostrado. De qualquer forma o funcionamento dessa sociedade de castas não parece muito crível. A ironia é que aqui temos o efeito contrário de Distrito 9: é um filme que se traveste de crítica social, mas de forma tão rasa que pouco mais é que um filme de ação.
A produção é competente da maneira que se espera que seja um filme de grande orçamento. A composição das favelas é muito boa. Os figurinos seguem uma linha minimalista, para não gerar uma imagem de futuro muito distante do que nos é contemporâneo. Destaco os terninhos claros utilizados pela ministra Delacourt (Jodie Foster), com cortes secos e ombros levemente voltados para cima, apenas para remeter à uma estética um tanto quanto alienígena enquanto ressalta o poder da personagem. Já trilha sonora não poderia ser mais incômoda, sendo ao mesmo tempo genérica e claramente inspirada na de A Origem.
Spider (Wagner Moura) é possivelmente o personagem mais ambíguo da trama: ele não é um vilão, nem um mocinho. Fatura um bom dinheiro vendendo vagas em suas naves que invadem Elysium ilegalmente, mas não parece se preocupar especificamente com seus passageiros. Seu papel é como o de um “coiote” faz hoje com os latino-americanos que querem entrar nos Estados Unidos. Embora grande parte da divulgação nacional do filme tenha sido baseada em sua participação na trama, Wagner Moura não parece totalmente confortável em cena. Algo na sua entonação por vezes soa exagerada e teatral, destoando do restante do elenco. Mas não deixa de ser divertido vê-lo falar um sono “porra, caralho!” em uma cena em que o personagem explode de raiva. Já Alice Braga, praticamente veterana em trabalhar em produções estado-unidenses, está extremamente confortável em seus papel. O mesmo pode-se dizer de Diego Luna, o ator mexicano que interpreta o amigo de Max, Julio.
As sequências finais se perdem em lutas vazias que se esforçam para ser poética como um filme chinês, até mesmo com o uso de uma katana e um fundo de flores de cerejeira. O desfecho previsível, que, através de flashbacks, subestimando o expectador, martela sua explicação repetida e desnecessariamente. Como falei anteriormente, grande parte do problema está na expectativa. Elysium é, afinal, um filme que não é ruim, mas está longe do que potencialmente poderia ser. É possível questionar se diretores que obtém sucesso em seus países de origem não deveriam começar no mercado americano com filmes com orçamentos mais enxutos. A própria grandiosidade da produção em si pode atrapalhar o processo.
(Veremos o que ocorrerá com o Robocop de José Padilha).