Esse ano, antes da Academia anunciar os indicados ao Oscar, uma página de teste com uma suposta lista foi ao ar por engano e constava que Sharen Davis havia recebido a indicação de Melhor figurino por Django Livre. Ela já possuía duas indicações anteriores, por Dreamgirls (2006) e Ray (2004). Acontece que quando a lista oficial foi ao ar, ela não estava entre os indicados (que foram Anna Karenina; Os Miseráveis; Lincoln; Espelho, Espelho Meu e Branca de Neve e o Caçador). Em minha opinião sua indicação caberia, pois o figurino de Lincoln não está muito interessante e o de Os Miseráveis não é visível no filme, graças à obsessão por zoom de Tom Hooper. Geralmente há essa preferência por filmes de época (especialmente os recheados de vestidos) e filmes de fantasia em geral.
O figurino de Django é bastante interessante. Em primeiro lugar temos o Dr. King Schultz, que é um personagem ambíguo: aqui ele aparece como mentor de Django e também o homem que o liberta, mas ao mesmo tempo ele mata pessoas por dinheiro e não tem medo de atirar mesmo na frente dos filhos dessas. Talvez por isso Schultz sempre se vista em tons de cinza e a peça mais marcante de seu figurino é um sobretudo com capa em três camadas. Esse tipo de peça não é de período, não é tradicional de nenhuma época, e foi feita, provavelmente, para ressaltar a singularidade do personagem. Visualmente ela confere também bastante peso.
Django, ao ser libertado, toma o casaco do homem que o negociava e ao chegar à primeira cidade, vai, junto com Schultz, comprar suas novas roupas. Incentivado a escolher a roupa que quisesse, Django escolhe um conjunto azul bastante chamativo, com detalhes em renda na gola, inspirado no quadro The Blue Boy.
Após definirem seu plano para salvar Broomhilda, Django passa a adotar uma jaqueta verde com botões de madeira e roupas em tons terrosos, que vão acompanhá-lo até o clímax do filme, quando ele incorpora roupas do próprio Calvin Candie enquanto executa a sua vingança.
De todos os personagens, Candie é justamente aquele que tem o figurino mais elaborado e mais interessante. Suas roupas sempre conversam diretamente com os locais onde ele está, sejam eles os salões onde ocorrem as lutas entre escravos ou nos ambientes (sala de jantar, biblioteca) de sua própria casa. A escolha de cores sempre é similar, mostrando que o personagem está em casa nesses ambientes e que não só eles pertencem a ele, como ele pertence a eles. Isso fica exemplificado, na imagem ao lado, no uso da cor vinho, acompanhado de dourado.
Já Broomhilda tem o figurino dividido em duas formas diferentes: nas visões que Django tem dela enquanto está a sua procura, ela é idílica e remete à beleza clássica do meio do século XIX, com cintura tipo império, mas o tom amarelo para contrastar. Depois, quando ela aparece em carne e osso, veste roupas práticas, com os tons cinzas dos demais escravos da casa Candie. Por fim, no final da história, passa a usar um traje mais utilitário, que remete mais aos trajes femininos de western, com um cinto largo e ampla saia em tom arroxeado.
Para quem quiser saber mais sobre o processo de criação do figurino, recomendo a entrevista com Sharen Davis no site Clothes on Film (que aliás, é um ótimo site para quem se interessa por figurino em geral)
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