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Em 1993 uma geração de crianças foi marcada pelo clássico absoluto Parque dos Dinossauros, dirigido por Steven Spielberg, adaptado do ótimo livro homônimo de Michael Crichton. Após isso, vieram duas sequências que não fizeram jus ao original e o descanso para a franquia. Agora, passados alguns anos, o universo dos dinos está de volta em Jurassic World, dirigido por Colin Trevorrow. A trama começa com um menino, Gray (Ty Simpkins) e seu irmão adolescente, Zach (Nick Robinson) se despedindo dos pais para passar alguns dias no parque temático, onde sua tia Claire (Bryce Dallas Howard) trabalha. O parque está em funcionamento há duas décadas e em três semanas será exposto para o público uma nova espécie, um ser geneticamente híbrido criado em laboratório chamado Indominus rex.
Claire, que é uma espécie de diretora do local, é apresentada como sendo muito ocupada com o trabalho e por isso não tem tempo para passear com os garotos. Sua rigidez é externada no figurino impecavelmente claro, acompanhado de sapatos de salto alto beges, que destoam das roupas de lazer dos visitantes e das práticas dos demais que trabalham nos bastidores do funcionamento. De fato, ela é uma pessoa incapaz de conexão emocional e de preocupação maternal. Trata animais e visitantes como números e gráficos, sem a percepção de que são formas de vida interagindo sob sua batuta.
Esse é o maior problema do filme: personagens caricatos e unidimensionais. Claire é uma yuppie clichê saída de um filme dos anos 80. Mas não é só ela que funciona dessa forma: há o ricaço excêntrico indiano (Irrfan Khan); o cientista malvado japonês (BD Wong) vindo do primeiro filme e que nada aprendeu com os acontecimentos de então; o militar (Vincent D’Onofrio) capaz de sacrificar quantas vidas forem necessárias para chegar ao seu intento; e mesmo os já citados meninos: um menor emotivo e um adolescente que não tira o olho do celular e das meninas de sua idade. E para coroar, existe Owen (Chris Pratt), o bravo treinador de velociraptors pronto para salvar o dia. Ele é descolado, anda de moto, usa camisa com a manga arregaçada e colete do Han Solo: enfim, é o herói de ação destemido e bonitão. A comparação com Harrison Ford é fácil, uma vez que certas cenas até mesmo remetem a Indiana Jones. Mas para que a similaridade fosse completa, o personagem precisaria de uma camada extra de carisma e humanidade, que lhe falta graças ao pouco desenvolvimento, assim como os demais.
É claro que em um local repleto de feras de grandes proporções, que são constantemente subestimadas, e de seres humanos que tomam as decisões mais estúpidas possíveis, o desastre está fadado a acontecer. Indominus Rex escapa e perpetra uma matança sem igual dentro da franquia.
Claire acaba se revelando a verdadeira protagonista do filme, em uma jornada em que demonstra coragem e que, novamente de maneira clichê, vai suavizar sua relação com as crianças e os demais (o que vai se refletir em sua roupa e seus cabelos). A aventura tem um quê de anos 80, ao remeter a filmes como Tudo por Uma Esmeralda (mas mesmo lá Kathleen Turner tem os saltos de seus sapatos quebrados, porque é humanamente impossível correr por muito tempo com eles).
Uma das sequências finais, com clara referência a Os Pássaros, é divertida, mas ao mesmo tempo contem a morte mais gratuitamente violenta do filme: uma personagem secundária que foi arrastada por torturas prolongadas antes de ser devorada pelo que se revelou o herói da história, no final.
Um ponto positivo do filme são as referências ao original, que funcionam ao nos lembrar de momentos marcantes daquele, mas que ao mesmo tempo nos fazem perceber a falta de momentos novos neste. O mesmo ocorre com a trilha sonora de Michael Giacchino, que funciona na medida em que remete à original de John Williams.
Mas apesar do que foi escrito até aqui, Jurassic World não é um filme ruim. A aventura e a ação são boas e conferem um ritmo adequado. Os dinossauros, mesmo com o excesso de CGI, despertam o saudosismo.
Na abertura, a primeira coisa que vemos no filme é uma pata rugosa que é revelada ser de uma ave. Trata-se de uma alusão interessante, uma vez que posteriormente um cientista vai falar que todos os animais do parque são modificados geneticamente, justificando a falta de penas na aparência dos dinossauros. Um argumento utilizado é que as pessoas, depois de vinte anos, vêm um dino da mesma forma que olham para um elefante em um zoológico: perdeu-se a capacidade de encantamento e tornou-se banal. Por isso criaram o Indominus: precisavam de algo maior, com mais dentes, mais aterrorizante. É assim que esse filme funciona: em maior escala, com dinossauros maiores, mais efeitos especiais, mais mortes. Mas talvez o que queríamos mesmo eram os bons e velhos dinossauros.
Gostei do filme, mas de fato o principal problema é os personagens. O primeiro filme dá um pau nesse aspecto, até mesmo a relação do Dr. Alan Grant com as duas crianças funcionava super bem. E sua crítica termina com a frase perfeita e o que ilustra bem é a cena final que soa ridícula, mas mesmo assim é foda pra caralho. Abs.
A dinâmica entre Dr. Grant e as crianças era realmente ótima. Obrigada pelo comentário! 🙂