Assistido em 22/09/2013
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O cinema de 2013 está realmente sendo marcado tanto por muitas produções de ficção científica quanto por biografias. Lovelace, dirigido por Rob Epstein e Jeffrey Friedman, é mais uma delas. Trata-se da história da atriz Linda Lovelace, conhecida pelo filme pornográfico Garganta Profunda. Inspirado em seu terceiro livro autobiográfico, Ordeal (Provação), a história começa quando Linda (ainda com sobrenome Boreman) mora com os pais, aos 21 anos. São eles Dorothy (Sharon Stone, irreconhecível) e John ( Robert Patrick). Interpretada por Amanda Seyfried, Linda é retratada como uma garota com certa inocência e leviandade. Os pais católicos, rígidos e controladores, exigiam horários fixos para suas saídas com as amigas, porque no ano anterior ela havia tido um bebê, que foi dado para adoção. Em uma dessas saídas, conhece Chuck Traynor (Peter Sarsgaard). Passado um tempo, sai de casa para ir morar com ele e casam-se.
A partir desse ponto temos uma das decisões mais interessantes do filme: mostra relação do casal apaixonado, o começo da carreira como atriz pornô de Linda e sua ascensão ao sucesso como que pelo ponto de vista de quem vê de fora. Tudo é muito bonito: o reconhecimento, as festas, os aplausos. Até que retoma os mesmos momentos mostrados anteriormente, mas dessa vez mostrando o que estava oculto ao grande público: a violência a que era submetida, os hematomas, os abusos. Foi coagida a se prostituir, estuprada, ameaçada de morte para fazer os filmes. Esse recurso faz com que primeiro criemos uma grande simpatia com a trajetória da personagem, para depois percebermos que aquele sucesso teve um preço. Por outro lado, por se tratar de um filme relativamente curto (cerca de 90 minutos), algumas cenas repetidas passam a sensação de desperdício de tempo.
Alguns recursos baratos são utilizados. Em determinada cena, Chuck é mostrado cheirando cocaína sobre uma foto do casal, sem se importar com isso. Já o design de produção é muito competente: cenografia e figurino nos transportam para a década de setenta de maneira efetiva. Os interiores das casas, com seus amarelos, marrons e verdes, estão muito bons. Atores como James Franco, Hank Azaria e Wes Bentley fazem rápidas participações.
Amanda Seyfried está ótima em cena e talvez o problema é que seja bonita demais. Quando um produtor afirma que a indústria pornográfica não tem lugar para ela porque ela é muito “girl next door“, não pude deixar de me questionar que vizinhança é essa? A sua beleza atrapalha um pouco a suspensão de descrença, mas ainda assim, a atuação a segura.
O meu maior problema com o filme é sua superficialidade. Todo o elenco atua muito bem e os aspectos técnicos também estão bem executados, conforme mencionado. Mas ao final a pergunta “Quem foi Linda Boreman/ Traynor/ Lovelace?” permanece sem resposta. Nós presenciamos, de forma incômoda, uma sucessão de violências e abusos cometidos contra ela, mas fora a jovem divertida do começo, nada mais nos é mostrado. Toda sua trajetória como militante contra a pornografia é deixada de lado. Será que é porque a indústria pornográfica hoje é muito maior e mais forte do que era na época? Através do filme, o que vemos é a forma como Chuck a trata, mas e os envolvidos na produção de seus filmes? Ninguém sabia? A maquiadora certa hora conversa com ela enquanto cobre seus hematomas, mas e os produtores?
O desfecho do filme nos mostra uma Linda calma, casada novamente, com um filho, vestindo roupas comportadas. É interessante que a sociedade que consome a pornografia é a mesma que condena as mulheres que atuam nesses filmes. Mesmo tendo sido forçada a entrar nesse mercado, para retomar uma vida digna Linda precisou tomar para si papéis tradicionalmente femininos e afirmar na televisão que agora era “mãe e esposa”. Não sei o quanto isso a ajudou, porque a prostituição e a pornografia são vistas como máculas que nunca se apagam. Mas deixa bem claro a hipocrisia como o tema é abordado.
Linda faleceu em 2002, vítima de um acidente de carro. Seu cachê pelo filme Garganta Profunda foi 1250 dólares, que ficaram com Chuck.
Para ler o que escrevi a respeito do figurino de Lovelace, acesse o link.
1 thought on “Lovelace (2013)”