Estante da Sala

Figurino: Amantes Eternos- a invenção de um oriente exótico

Texto originalmente publicado na coluna Vestindo o Filme em 08/05/2015. Quem não sonhou a terra do Levante? As noites do Oriente, o mar, as brisas, Toda aquela sua natureza Que amorosa suspira e encanta os olhos? (Trecho do poema O Cônego Filipe, de Álvares de Azevedo) A citação inicial dessa análise não vem por acaso. Poeta romântico, Álvares de Azevedo segue os preceitos da escola literária, entre eles a exaltação da natureza, a visão trágica do mundo e a idealização do assim chamado Oriente. Adam (Tom Hiddleston) e Eve (Tilda Swinton), os protagonistas de Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive,

Figurino: Cinderela

Texto originalmente publicado na coluna Vestindo o Filme em 10/04/2015. “Tenha coragem e seja gentil.” O mais popular de todos os contos de fadas já foi adaptado para o cinema diversas vezes, mas a animação da Disney Cinderela, de 1950 continua sendo a mais famosa. Agora o próprio estúdio recriou o conto de Perrault em uma versão live action de mesmo título. Ao contrário de outras adaptações recentes, que construíram mundos mais sombrios, como Malévola, esta manteve a atmosfera infantil e mágica. Dirigido por Kenneth Branagh, o filme conta com figurino da veterana Sandy Powell, que trabalhou com Scorsese em

Figurino: Precisamos Falar Sobre o Kevin

“Costumava pensar que sabia. Agora não tenho certeza.” Uma das sequências iniciais já entrega: apesar de ter a tensão construída de maneira gradual e sem uso de violência gráfica, os signos que dão pistas do antecipado desfecho não são sutis. A protagonista, Eva (Tilda Swinton) aparece em um flashback sendo carregada, com os braços abertos em cruz, em meio ao festival La Tomatina, na Espanha. A imagem se conecta à jornada de calvário da personagem. O ideário de martírio e penitência começa com próprio nome: Eva, a primeira mulher, a mãe e a responsável pelo pecado original. A culpa relacionada

Figurino: Dublê de Anjo

Texto originalmente publicado na coluna Vestindo o Filme em 13/03/2014. “Era a ordem natural das coisas… tudo deve morrer.” Era uma vez em uma Los Angeles imaginária e idílica, filtrada por um amarelo quente da luz solar, em um período de tempo não identificado, uma dupla inesperada que cria sua jornada heroica de aventura. Roy Walker (Lee Pace) trabalha como dublê em filmes mudos que se acidentou em trabalho no hospital. Alexandria (Catinca Untaru) é uma menininha tratando seu braço quebrado no mesmo local. Desse encontro nasce a história que ele conta a ela: uma fantasia repleta de personagens coloridos

Análise dos Indicados no Sindicato dos Figurinistas de 2015

No dia 17 de fevereiro o Sindicato do Figurinistas dos Estados Unidos revelou os vencedores de seu 17º prêmio anual (Costume Designer Guild Awards). A premiação tem como votantes profissionais da área, como figurinistas, assistentes de figurino e ilustradores que tenham vínculo com o sindicato e o prêmio abarca produções de cinema, televisão e publicidade. Por se tratar de uma escolha feita pelos próprios profissionais, a tendência é que avaliem mais as sutilezas da obra indicada, enquanto outros prêmios, como o Oscar, por exemplo, tendem a lembrar apenas dos figurinos mais vistosos. Isso pode ser percebido no fato de no

Figurino: Oldboy- Uso simbólico de cores

Texto originalmente publicado na coluna Vestindo o Filme em 10/12/2014. “Apesar de não ser mais que um monstro não tenho, também, direito de viver?” Um jovem clássico do cinema coreano, Oldboy, dirigido por Chan-wook Park, possui o visual marcante e com elementos estrategicamente controlados característico do diretor. O figurino fica a cargo da então estreante Sang-gyeong Jo, e essa parceria se repetiu em duas obras posteriores: Lady Vingança e Sede de Sangue. O uso de cores no filme é feito de forma estilizada e esquemática. Assim como em Segredos de Sangue (cuja análise pode ser lida aqui), as cores são

Figurino: Yuppies e feminismo no cinema dos anos 80

Texto originalmente publicado na coluna Vestindo o Filme em 12/11/2014. Os anos 80 trouxeram consigo uma reação à geração da contracultura: depois que o sonho acabou, conservadorismo e individualismo tomaram o lugar dos ideais anteriores. Nos Estados Unidos, especificamente, houve a ascensão dos chamados “yuppies”, termo vindo de “young urban professional”, jovens profissionais urbanos altamente competitivos e preocupados com a imagem. Nessa mesma época vicejava a segunda onda do feminismo. Se a primeira onda, já no começo do século XX, reivindicava para as mulheres direitos básicos, como o de votar, a segunda clamava por igualdade de tratamento e de direitos