Disponível no catálogo da Netflix, The True Cost, dirigido por Andrew Morgan, é um bom documentário para refletir sobre o peso do nosso consumo. Há algumas décadas, a moda previa quatro coleções por ano: primavera, verão, outono e inverno. Agora, com a ascensão do fast fashion, com grandes redes de varejo, especialmente da Europa e Estados Unidos (C&A, H&M, Forever 21, Zara, Topshop, etc), as lojas recebem coleções novas todas as semanas, com preços baixos, material de qualidade duvidosa e acabamentos questionáveis. Mas o chamariz são os preços.
Por que pagamos o mesmo preço por uma calça ou uma regata que pagávamos há 10 anos? Porque os custos de produção foram cortados na outra ponta: mulheres e crianças de países de “terceiro mundo” são submetidas a jornadas de trabalho exaustivas, com pagamentos irrisórios e sem direitos trabalhistas. A poluição do processo de produção e as doenças causadas por ela ficam nesses países, mas não só isso: os consumidores do “primeiro mundo” exportam para outros países o lixo gerado pelo descarte dessas peças sem durabilidade. Tudo isso é mostrado no contexto europeu, mas não é difícil fazer a relação com os trabalhadores de outros países da América Latina que estão no Brasil em condições análogas à de escravidão.
Há um tempo atrás eu li o livro chamado Fashion and Its Social Agendas: Class, Gender and Identity in Clothing, de Diana Crane, em que consta uma pesquisa que afirma que uma pessoa da classe trabalhadora britânica no final do século XIX raramente possuía mais que algo em torno de cinco peças de roupa e estas eram deixadas de herança. Por que hoje em dia as pessoas tem tantas e por que não duram uma vida? Mas mais importante, por que tantas vidas prejudicadas para isso?
Como material cinematográfico The True Cost é bastante simplista, fazendo uso quase que exclusivo de entrevistas e não respondendo questões que se propõe responder. Mesmo assim, vale a pena assisti-lo pela reflexão que proporciona.
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