Cheguei ao trabalho da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie através de seu manifesto Sejamos Todos Feministas, um texto curto transcrito de uma palestra do TED e que está disponibilizado gratuitamente para download na Amazon. O conteúdo é bastante simples e direto e, talvez por isso, tão eficiente. A palestra pode ser conferida no vídeo abaixo.
Algum tempo depois assisti a um filme chamado Half of a Yellow Sun, estrelado por Thandie Newton, Chiwetel Ejiofor, Anika Noni Rose e John Boyega e dirigido por Biyi Bandele. O filme é adaptado do romance Meio Sol Amarelo, o segundo escrito por Chimamanda; e me chamou atenção porque a despeito da narrativa um tanto quanto convoluta, com história demais para sua duração, foi possível perceber que por trás haviam personagens diversos e bem construídos transitando pelo cenário político de conflitos e revoluções através das décadas na Nigéria. Em resumo: é um filme falho, mas bom o suficiente para ressaltar qualidades que parecem vir da obra original, que ainda não tive acesso para ler.
Mas eis que ponho as mãos em uma cópia de Americanah, terceiro romance da escritora. Não fiquei surpresa ao perceber que a leitura fluiu rápida e deliciosa. Americanah conta a história da jovem Ifemelu, passando por sua vida em Lagos, capital da Nigéria, sua migração para estudar nos Estados Unidos e seu retorno à terra natal muitos anos depois. Trata-se de uma história de amor: Ifemelu namorava com Obinze, de quem se separou com a mudança. Alternando a narrativa entre o ponto de vista dos dois personagens, mas predominando os capítulos de Ifemelu, acompanhamos o crescimento dos dois e suas vivências à parte.
Nos Estados Unidos como bolsista universitária, Ifemelu começa um blog de sucesso em que aborda questões étnico-raciais sob o ponto de vista de uma migrante, uma vez que relata que muitos pontos são percebidos de maneira diferente por ela enquanto nigeriana em relação aos afro-americanos. Em sua estadia, ela teve mais dois relacionamentos: com Curt, um homem branco e rico e com Blaine, um professor universitário negro que vê o ativismo sob o ponto de vista acadêmico. Seu contato com outras pessoas no país e com os momentos cotidianos que testemunha é que alimentam as reflexões que escreve no blog. À partir de certo ponto do livro, as postagens aparecem transcritas literalmente.
Um dos muitos aspectos interessantes do livro é perceber como a Nigéria se parece muito com o Brasil nas divagações da personagem, especialmente quando se trata de questões de classe. E nesse sentido a autora é bastante sincera e não escreve a respeito do que parece desconhecer: a maior parte de seus personagens pertencem a uma classe média privilegiada composta por profissionais liberais e professores universitários, com empregados domésticos trabalhando em suas casas e acesso a bens de consumo.
Ifemelu é uma protagonista falha, tridimensional, sempre pronta para fazer alguma observação interessante sobre sua realidade. Assim, Americanah é um romance, sim, mas um romance que aborda de maneira fluida e ao mesmo tempo profunda questões étnico-raciais, de gênero e sobre migração e identidade.
Americanah está sendo adaptado para o cinema. O filme é produzido por Brad Pitt e protagonizado por Lupita Nyong’o, com David Oyelowo em um papel ainda não divulgado.
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