Estante da Sala

Quase Famosos (Almost Famous/ 2000)

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Tenho uma história interessante com esse filme e revê-lo foi uma ótima experiência. Durante minha adolescência, naquele final de década de 90 e início de anos 2000, numa pacata cidade de interior sem muitas opções de lazer para gente da minha idade, costumávamos, eu e meus amigos, nos reunirmos nas casas uns dos outros e eventualmente alugávamos filmes para assistir. Assim eu vi do horroroso Revelação (um suspense com Harrison Ford que tinha a pachorra de se comparar a Psicose) ao até hoje amado Virgens Suicidas (meu preferido da Sofia Coppola). Em uma dessas sessões, assistimos Quase Famosos. Bem, eu assisti parcialmente: meu pai chegou para me buscar faltando apenas 10 minutos para o fim do filme. E levei treze anos para revê-lo  e recuperar esse trechinho perdido e mesmo depois de todo esse tempo ainda me lembrava de tudo. Que experiência linda foi essa!

Para começar, o filme de Cameron Crowe é o retrato saudosista e utópico de um época que não vivi. Baseado em história real, conta como o jovem William (Patrick Fugit) se tornou repórter da revista Rolling Stone aos quinze anos, fazendo uma reportagem de capa sobre a banda fictícia Stillwater (que é claramente o Led Zeppelin. Viajando na turnê com os artistas e convivendo com suas groupies, William descobre amizade, amadurescimento e amor, enquanto presencia o fim da ingenuidade do rock, tudo isso regado por uma trilha sonora incrível. Dificilmente alguém dessa idade não ficaria encantado com a ideia de viajar com uma banda de quem fosse ídolo. Esse processo o leva à percepção da humanidade e dos defeitos deles. E embora tudo pareça muito divertido, os bastidores nunca foram lugares amigáveis para as mulheres, que aparecem divididas entre as namoradas traídas e as groupies tratadas como objeto e mercadoria de troca. Nesse contexto, Penny Lane (Kate Hudson) pode ser uma verdadeira manic pixie dream girlmas de alguma forma ela se sobressai ao próprio estereótipo e, ao invés de ser irritante, é amável.

No final da década de 1990 houve um retorno da influência da moda do início dos 1970. Desse modo é interessante perceber como essa moda, então contemporânea, influencia o figurino que retrata aquele período, num processo de retroalimentação: os anos 70 influenciam os anos 2000 que influenciam a visão que temos dos anos 70. Assim, muitas roupas usadas pelos personagens não são um retrato fiel do período, mas sim nos mostram como víamos a época com os filtros da virada do milênio. Percebe-se Penny Lane, excluídos os itens necessários para mostrar o glamour de ser groupie,  veste roupas que nós, adolescentes em 1999 e 2000 usávamos: calças de cintura baixa (e não alta), batas bordadas,  tops, colares e correntinhas misturados, óculos de sol com lentes coloridas, calçados com plataforma e a lista segue.

Quase Famosos é um filme leve e delicioso, sobre aproveitar a vida e as chances e (re-)assisti-lo despertou-me um duplo saudosismo: saudades de uma época que não vive e saudades de uma época que vive e me diverti muito.

quase famosos

 

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